As origens do conceito 'nova evangelização'.
O Conselho Superior das Pontifícias Obras Missionárias (POM)
realizou em Roma, de 7 a 12 de maio do corrente ano, sua assmebléia geral. No
seu discurso de abertura, o Cardeal Fernando Filoni, Prefeito de Congregação para a Evangelização dos Povos,
recordava que Bento XVI convocou o XIII
Sínodo ordinário dos Bispos com o objetivo de fazer frente a uma situação
muito particular: a apostasia ou indiferença de tantos batizados frente a Deus
e Cristo, inclusive nas jovens Igrejas; a urgente necessidade de inaugurar uma
nova época da evangelização, com novo ardor, novo entusiasmo e novo método.
Fazendo uso da palavra, Dom
Pergiuseppe Vacchelli, Presidente das Pontifícias
Obras Missionárias, adevetia que a dita nova evangelização não pode ser usada
pelas Igrejas locais como um álibi para limitar seu trabalho à renovação
pastoral no horizonte das próprias necessidades e fronteiras. “Nossa tarefa é
fazer emergir o fato de que a nova evangelização tem como objetivo primeiro
colocar a Igreja em condições de se lançar na missão ad gentes, que é sua
prioridade absoluta”, disse.
Na conferência que apresentou
à referida assembléia, o Pe. Vito del Prete, secretário geral da Pontifícia União Missionária (PUM),
explicita sua preocupação com a surprendente e perigosa falta de clareza em
torno do conceito ‘nova evangelização’, não obstante a criação de um conselho
pontifício para coordená-la e a convocação de um Sínodo para discuti-la. “Não
podemos esconder que existe uma certa confusão na compreensão e no uso do termo
‘nova evangelização’, expressão que sofre uma espécie de tortura semântica e da qual cada um extrai aquilo que lhe
interessa.”
Segundo o secretário geral da
PUM, o significado dado ao conceito ‘nova evangelização’ fica como que suspenso no limbo entre a evangelização
em sentido estrito (primeira evangelização, ou anúncio da Boa Nova do Reino de
Deus a quem ainda não a recebeu) e evangelização entendida como ação de refazer
o tecido cristão da sociedade atual (segunda evangelização, ou re-anúncio a quem
abandonou o Evangelho como referência de vida. “É uma confusão que nem mesmo o
dicastério para a nova evangelização conseguiu clarear”, lamenta.
A reconstrução do ambiente
geo-pastoral no qual nasceu a expressão pode ajudar a tirá-la deste limbo pastoral e a evitar a tortura semântica que vem sofrendo. O
conceito nasce na América Latina. Na Mensagem final da Conferência de Medelin (1968), o CELAM pede que as Igrejas
particulares coloquem em ação uma “nova evangelização e uma catequese
intensiva” para alcançar uma fé lúcida e coerente. Na sua contribuição ao
Sínodo dos Bispos de 1977, o CELAM explica que o conceito tem o sentido de uma catequese
evangelizadora, na perspectiva das Conslusões
de Medelin. Assim, a expressão nasce no contexto da busca de uma atuação
eclesial capaz de superar uma evangelização ingênua e cega, mancomunada com
instituições e estruturas opressoras, baseada no divórcio entre fé e vida e na
ruptura entre seguimento de Jesus Cristo e engajamento pela libertação dos
oprimidos.
João Paulo II repesca o
conceito e o apresenta na mensagem enviada à IV Assembléia Ordinária do CELAM (Haiti, 1983): “Não se trata de
re-evangelização, mas de evangelização nova.
Nova no ardor, nos métodos e na expressão.” Sua insistência faz sentido diante
da história da evangelização do novo mundo, marcada pelos nefastos vínculos com
a empresa colonialista da cristandade européia. Na Conferência de Santo Domingo (1992), o CELAM afirma que a nova
evangelização “é um conceito operativo e
dinâmico e se constitui num conjunto de meios, atividades e atitudes
adequadas para colocar o Evangelho em diálogo ativo com a modernida e a
pós-modernidade, tanto para interpretá-las como para deixar-se interpretar por
elas” (n° 24).
Refazendo o percurso do
nascimento do conceito de nova evangelização, dois elementos ficam claros: o
conceito pretende superar uma ação eclesial desvinculada da situação histórica
de opressão; e almeja transformar-se num amplo método de diálogo ativo e
operativo com o contexto sócio-cultural.
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário