Estamos celebrando a Semana da Pátria.
Como sempre, os riscos de um patroitismo ingênuo, seletivo xenófobo nos rondam.
Não podemos esquecer que o brado retumbante do povo heróico não se resume ao
discutível grito de Dom Pedro. Outros sonharam a liberdade, sofreram por este
sonho, e prepararam a terra com as próprias mãos e o próprio sangue a fim de
que ela germinasse. Os raios fúlgidos do sol da liberdade brilharam aqui e
acolá, mas continuam ameaçados por temporais diversos. O penhor da igualdade
sonhada continua sendo desafio. A pátria é amada e até idolatrada, mas o povo
ainda é cdesprezado. O Brasil da igualdade, da justiça e da sustentabilidade é
ainda, em grande parte, um sonho intenso. As poucas glórias do passado ainda
esperam pela justiça presente e a paz futura. Ontem como hoje, muitos são os
filhos e filhos desta mãe gentil que não fogem à luta. Entre tantos, vamos
recordar alguns/mas.
Antônio Conselheiro
"É chegado o momento para
me despedir de vós. Que pena, que sentimento tão vivo ocasiona esta despedida
em minha alma... Adeus povo,adeus aves,
adeus árvores, adeus campo, aceitai a minha despedida, que bem demonstra as
gratas recordações que levo de vós, que jamais se apagarão da lembrança deste
peregrino...” (Despedida de Antônio Conselheiro)
No dia 13 de março de 1830,
nasce, no sertão do Ceará, na Vila do Campo Maior, Antonio Vicente Mendes
Maciel, filho do comerciante Vicente Mendes Maciel e de Maria Joaquina de
Jesus. Mais tarde viria a ter o apelido de Antônio Conselheiro.
Desde sua juventude sentiu e
percebeu as injustiças praticadas contra o povo pobre do sertão (composto por
ex-escravos, indígenas mestiços) e cresceu nele o desejo de libertar este povo
das péssimas condições em que viviam.
Tornou-se educador e missionário
leigo e, durante suas pregações pelo sertão, durante mais de 20 anos, foi
deixando por onde passava as marcas de sua fé e do seu compromisso social,
construindo, mediante trabalho comunitário, pequenas represas, capelas,
cemitérios, etc.
Conselheiro casou-se com
Brasilina Laurentina de Lima, sua prima, aos 27 anos. Quatro anos depois,
Conselheiro flagrou sua esposa traindo-o com um sargento em sua própria casa. Então,
bandonou o lar e foi para o Cariri.
Depois de vinte anos de
peregrinação pelo nordeste (ele perambulou pelo Ceará, Sergipe, Pernambuco e
Bahia), amado pelo povo e visto como um messias ou um profeta por alguns,
imcompreendido e perseguido pelas autoridades, Conselheiro observou de perto o
atraso em que o povo se encontrava e o descontentamento que eles sentiam.
Assim, resolveu, na última
década do século XIX, pôr em prática seu objetivo de formar uma comunidade
igualitária: Belo Monte (Canudos, no interior da Bahia). Rapidamente, a
comunidade cresceu e tornou-se uma das maiores cidades do nordeste, com 25.000
habitantes, bem organizada, religiosa, produtiva e comunitária.
A reação das pessoas de
posses, dos políticos e de alguns setores da igreja, deflagrou Guerra dos Canudos, que teve seu início em 1896
e a maior guerra camponesa do século XIX. As três primeiras expedições
militares foram derrotadas pelos sertanejos. A quarta expedição da polícia e do
exército, formada por milhares de homens, potentes canhões e liderada por Artur
Oscar, conseguiu, no dia 5 de outubro de 1897, tomar a cidade de Canudos.
Todos os habitantes foram
mortos (nem as crianças foram poupadas). Canudos virou cinzas, mas também
tornou-se, por seu sonho e resistência, símbolo de luta e esperança de um outro
Brasil. Vítima de ferimentos causados pela explosão uma granada, Antonio
Conselheiro morreu em 22 de setembro de 1897.
Nenhum comentário:
Postar um comentário