“O clamor dos pobres deve encontrar a Igreja na vanguarda!”
Ao definir o penúltimo
domingo do tempo comum como Dia Mundial
dos Pobres, o Papa Francisco está a nos dizer que a espera do Reino de Deus
implica em compromisso efetivo para eliminar a indiferença frente às vítimas da
exploração e para sair decididamente ao encontro dos pobres, engajando-nos para
que lhes seja feita justiça e os sofrimentos que lhes são infligidos sejam
amenizados. Na sua mensagem para este dia, o Papa escreve: “O clamor silencioso
de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda
parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles”.
Mesmo que algumas
vozes se levantem e gritem diversamente, Deus confia plenamente na pessoa
humana. E o testemunho mais claro e indiscutível dessa confiança é a encarnação
do Filho seu, a assunção plena da nossa condição humana, com todas as suas
tensões e possibilidades. Deus confia a nós não apenas uma doutrina a ser
defendida e ensinada ou uma mensagem a ser transmitida. Ele coloca em nossas
mãos a tarefa de dirigir o curso da história e nela realizar seu Projeto. Jesus
ilustra isso com a parábola dos talentos.
É o próprio Deus que
chama seus administradores, entrega a eles seus bens e espera que cada um
corresponda a esta confiança de acordo com suas próprias possibilidades. “A um
ele deu cinco talentos, a outro deu dois, e ao terceiro, um.” A cada qual de
acordo com a respectiva capacidade. A confiança do patrão é tão absoluta que
ele viaja sem nenhuma preocupação. Deus sabe em quem coloca sua confiança! Mas
é importante perguntar: o que ele espera daqueles que nele acreditam? Seria a
simples multiplicação de horas de adoração, de doutrinas abstratas, de leis
pesadas e de morais implacáveis?
Não! Eis o que ele
pede e espera: “Vão e façam discípulos meus em todos os povos! Assim como o Pai
enviou a mim, eu envio vocês!” Trata-se de anunciar e dinamizar o Reino de Deus
acolhendo os pobres, consolidando a justiça, amando sem distinção e sem impor
condições. Jesus espera que a confiança depositada em nós dê frutos! É por isso
que Jesus coloca nos lábios do homem anônimo o elogio que o próprio Deus
pronuncia diante dos fiéis que agem responsavelmente: “Muito bem, servo bom e
fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito
mais! Venha participar da minha alegria!”
Confiança com
confiança se paga! Mas a confiança responsável se mostra na capacidade de
correr riscos, de sujar as mãos e encarnar-se na história, pois é nela que se
esconde e se expande o Reino de Deus. O que Deus nos confia é um fermento, e o
fermento cumpre seu destino somente quando se mistura à farinha e a faz a massa
crescer. O que Deus nos confia é o dinamismo do seu amor, e o amor morre quando
fica relegado a simples sentimento e não é transformado em ação. É verdade que
o que se espera de nos é uma responsabilidade serena e sóbria, mas isso não
significa que podemos ser impunemente passivos!
Infelizmente, alguns
mal-entendidos levam muitos cristãos a atitudes irresponsáveis. Em nome da
defesa da fé, concebem, dão à luz e fazem crescer uma Igreja separada do mundo,
centrada nas doutrinas e nas leis, seduzida por uma vaga ideia de alma,
enamorada dos poderes elitistas e excludentes, obcecada por templos suntuosos e
ricos ornamentos. E mais: gasta todas as suas limitadas forças no resgate de
ritos e línguas de um tempo que não existe mais. Esta atitude é bem
representada pelo sujeito que, mesmo tendo recebido sua parte de
responsabilidade, age guiado pelo medo e enterra seus talentos.
Por quê esse sujeito
faz isso? “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e
ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo escondi o meu talento no
chão.” Ele diz que age por medo e respeito, mas, na verdade, é guiado pelo medo
e pela preguiça! É um servo mau e preguiçoso. A fé sempre nos leva a enfrentar
desafios: a encarnar a esperança no coração do mundo; a envidar esforços para
que os pobres não tenham apenas um dia, mas sejam prioridade em todos os
projetos. “Estenda” a mão ao pobre é um convite à responsabilidade, ao empenho
direto, de quem se sente parte do mesmo destino”.
Neste tempo de tantas
tensões no mundo globalizado e no interior da Igreja, rezemos com Dom Helder
Camara: Senhor, ajuda a Igreja de Cristo
a reencontrar os perdidos caminhos da Pobreza. Ajuda-a na abertura de portas:
que nenhuma porta seja fechada. Ajuda-nos no esforço de levar à prática as
decisões conciliares, sopro renovador da face da terra. Ajuda-nos a ajudar a
humanidade no acerto do desencontro que a muitos pode parecer mania: o diálogo
entre o mundo desenvolvido e o mundo subdesenvolvido. Amém! Assim seja!
Itacir Brassiani msf
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