É SEMPRE POSSÍVEL REAGIR
Nem sempre é o desespero que destrói a
esperança e o desejo de continuar a andar dia após dia, cheios de vida. Pelo
contrário, pode-se dizer que a esperança vai-se diluindo em nós quase sempre de
forma pouco perceptível. Talvez sem nos darmos conta, a nossa vida vai perdendo
cor e intensidade. Pouco a pouco parece que tudo começa a ficar pesado e
aborrecido. Vamos fazendo mais ou menos o que temos que fazer, mas a vida não
nos satisfaz.
Um dia percebemos que a verdadeira
alegria foi desaparecendo do nosso coração. Já não somos capazes de saborear o
bom, o belo e grande que há na existência. Pouco a pouco, tudo se foi
complicando. Talvez já não esperemos mais grande coisa da vida ou de ninguém.
Já nem acreditamos em nós mesmos. Tudo nos parece inútil e com pouco sentido.
A amargura e o mau humor apoderam-se de
nós cada vez com mais facilidade. Já não cantamos. Dos nossos lábios não saem
senão sorrisos forçados. Faz algum tempo que não conseguimos rezar. Talvez
comprovemos com tristeza que o nosso coração foi endurecendo e que hoje não
amamos quase ninguém. Incapazes de acolher e ouvir a quem encontramos dia a dia
no nosso caminho, só sabemos queixar-nos, condenar e desqualificar.
Pouco a pouco, fomos caindo no ceticismo,
na indiferença ou na preguiça total. Cada vez com menos forças para tudo o que
exija verdadeiro esforço e superação, já não queremos correr novos riscos. Não
vale a pena. Preocupados com muitas coisas que nos pareciam importantes, a vida
foi-se nos escapando. Envelhecemos interiormente, e algo está prestes a morrer
dentro de nós. Que podemos fazer?
A primeira coisa é acordar e abrir os
olhos. Todos estes sintomas são indício claro de que temos a vida mal
organizada. Esse mal-estar que sentimos é o grito de alarme que começou a tocar
dentro de nós. Nada está perdido. Não podemos repentinamente sentir-nos bem,
mas podemos reagir. Temos de nos perguntar o que foi que negligenciámos até
agora, o que temos de mudar, a que precisamos dedicar mais atenção e mais
tempo. As palavras de Jesus são dirigidas a todos: «Vigiai». Talvez hoje mesmo,
tenhamos de tomar uma decisão.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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