quarta-feira, 4 de novembro de 2020

ANO A | TEMPO COMUM | TRIGÉSIMO-SEGUNDO | 08.11.2020

Esperemos atentamente e engajemo-nos lucidamente!

Quando Jesus pede que fiquemos vigiando, “pois não sabeis qual será o dia, nem a hora”, estaria se referindo a tragédias como as que recentemente ocorreram em Mariana e Brumadinho? Seguramente, não! Nestes casos, a vigilância responsável cabia aos empresários e administradores, e, em nome da sociedade, aos órgãos fiscalizadores do estado e do país. Jesus não pede que “fiquemos e olho” ou “com as barbas de molho” porque algo terrível está sendo preparado por Deus e vai acontecer. Isso não faz parte dos planos dele!

Jesus está falando sobre o mistério e o dinamismo do reino de Deus, que traz tudo de bom para todos, e passa longe das pregações de mau gosto e interesse suspeito que se tornaram comuns na boca de pastores e padres de ocasião. Jesus insiste na necessidade de preparar-nos adequadamente para esse acontecimento, pois ele se manifesta discretamente, cresce como a semente escondida na terra, mas um dia deve aparecer em toda a sua beleza e esplendor. A manifestação do reino de Deus é algo que não devemos temer mas desejar, porque é benéfico para a humanidade toda, e preparar, porque sua edificação depende de nós!

É claro que isso não tem nada a ver com o propalado e temido fim do mundo, ao menos do mundo em sentido físico. A irrupção do reino de Deus significa o fim de um mundo, deste mundo de competição predatória, de dominação violenta, de exploração desmedida, de indiferença globalizada, de soberba inflacionada, de desigualdade absurda. Trata-se do fim deste “mundo imundo” e da manifestação de um novo modo de viver e conviver, de trabalhar e consumir, de crer e de celebrar, de fazer alianças e de lutar. E o fim deste mundo nos encanta e estimula, como a chegada do noivo, com o que se inicia a festa que não tem limites nem fim. 

Para guiar-nos nessa esperança que faz caminhar, Jesus conta a parábola das dez moças que saíram ao encontro do noivo que devia chegar para que a festa começasse. Cinco jovens, desavisadas e desatentas, pouco lúcidas e muito afoitas, pegaram lâmpadas mas não se preocuparam com uma reserva de óleo; pensavam que a espera era coisa de pouco tempo. As outras cinco, entusiasmadas, mas mais previdentes, levaram uma reserva de óleo, prevendo a possibilidade de que a espera fossem mais longa do que gostariam.

E foi exatamente isso que aconteceu! A vinda do noivo demorou mais que o previsto, e as lâmpadas do grupo mais afoito se apagaram. Enquanto foram improvisar uma solução, o noivo chegou, as outras moças o acolheram e foram recebidas na festa. E as portas se fecharam. Com as lâmpadas tardiamente reabastecidas e acesas, o segundo quinteto bateu com insistência, mas sem sucesso. O noivo disse que não as reconhecia, pois quem quer ser sua amiga deve viver vigilante e engajada. Assim, o/a discípulo/a de Jesus!

A atitude de vigilância recebe destaque na liturgia, na medida em que estamos nos aproximando do fim do ano litúrgico. E isso possibilita que pensemos também no fim do mundo e no fim da vida. Mas nisso a gente não gosta muito de pensar. Pensemos então num fim de campeonato de futebol: como a rodada final é esperada, preparada, encarada com seriedade. Haja treinamento! A diferença é que o final de um campeonato tem uma data prevista, mas a expectativa, a preparação, a ansiedade, são semelhantes ao que se espera em relação à irrupção do reino de Deus, que não tem data marcada.

No Brasil, vivemos tempos sombrios, temerosos, devastadores como os “acidentes” de Mariana e Brumadinho, a pandemia, o desmonte das políticas, organizações e instituições sociais e ambientais. Um Executivo golpista e impopular, secundado por um Congresso que não representa a nação, caça um por um direitos sociais e ambientais que custaram anos de luta, suor e sangue. Com a criminosa conivência da grande imprensa, vende o patrimônio coletivo e achincalha a democracia. Não podemos esperar que isso se acabe por decurso de prazo. Precisamos imitar as jovens prudentes, munir-nos do óleo da indignação e partir para a luta. Neste sentido, “esperar não é saber”, e “quem sabe, faz a hora, não espera acontecer...”

Deus Pai e Mãe, Compaixão e Misericórdia, Sabedoria dos humildes, Força dos fracos: teu filho nos pede vigilância e engajamento, para que não fiquemos fora da festa da Vida. Que a tua Sabedoria venha ao nosso encontro, acorde-nos do sono letárgico e desperte-nos para a profecia. Que nossos pensamentos, noturnos e diurnos, sejam o teu Reino. Que nas vigílias suspiremos por ele. Que seja por ele o cântico que brota dos nossos lábios. E que os eventos que celebramos nos próximos domingos – dia dos pobres e dia dos leigos – provoquem em nossas comunidades atitudes e iniciativas que deem novo rosto à Igreja. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Livro da Sabedoria 6,12-16 | Salmo 62 (63)

Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses 4,3-18 | Evangelho de São Mateus 25,1-13

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