A pobreza de Deus nos enternece, enriquece, congrega
e liberta!
O tempo de preparação chegou ao seu termo. Estamos
satisfeitos/as, pois nossa preparação para esse momento foi iluminada pela tua
santa Palavra, na qual também nos alimentamos diariamente. É claro que em
alguns dias faltou-nos o apetite, e nos aproximamos da mesa mais por hábito que
por desejo. Reconhecemos também que, em vários momentos, o foco da atenção não
foste tu, tua visita e teu projeto. Tu sabes, são tantas as obrigações e
reponsabilidades que pesam sobre nós...
Mas há outras coisas que nos distraíram e
preocuparam. Este ano não foi dos melhores para o povo que tu amas. Nosso
Presidente, com a colaboração dos sócios que o impuseram, saqueou
descaradamente a nação, sob o olhar impassível e a inércia criminosa da justiça.
Ele acendeu velas reverentes à voracidade do mercado, se submeteu à violenta
vontade do capital, confinou de novo índios e negros, caçou direitos
conquistados com sangue e suor e ignorou cinicamente a pandemia que ceifou
quase duzentas mil brasileiros/as.
Marcado por tudo isso, reunimo-nos como teu
povo para te contemplar e acolher. Ao nosso redor, além destes/as que aqui
vieram para te escutar e acolher, há gente que já dorme sossegadamente, alguns
festejam irresponsavelmente, mas muitos/as estão reclusos/as, bebendo amargos
goles de medo e de perdas irreparáveis. No
entanto, no calor dessa noite, aqui vimos para vigiar com nossos irmãos e irmãs,
para meditar sossegadamente sobre o mistério dessa noite, sobre aquilo que
aconteceu em Belém. E repetimos, como um mantra que brota do ventre da terra:
“Vem, Jesus, estamos te esperando, e precisamos de ti!”
Começamos fixando a atenção nos teus queridos
pais. Sentindo que a hora esperada se aproxima, rejeitados pelos habitantes da
cidade, procuraram abrigo numa estrebaria. Não havia lugar para eles e para ti
na cidade, ocupada com tanta coisa desimportante. Mas eles prepararam o melhor
lugar que puderam para ti. Também nós somos pobres criaturas, e não temos senão
uma miserável manjedoura, onde depositamos uns poucos feixes de palha. Mas, te
oferecemos tudo o que temos e o que somos, Menino querido, Deus amável!
Confessamos que tua pobreza toca-nos
profundamente, e nos enternece. Estamos comovidos/as, e as lágrimas insistem em
brotar silenciosamente dos olhos. Queríamos te abraçar, te dar proteção, te
oferecer tanta coisa, mas não temos nada de melhor e mais importante que isso
que estamos te oferecendo. Por isso, Jesus, embeleza e enriquece nossa vida com
a tua presença. Adorna nossa caminhada com a tua graça. Queima essas palhas
secas e transforma elas em macio berço para o teu santíssimo corpo, tu que,
desde sempre, sonhaste e desejaste fazer-te um de nós.
Causa-nos tristeza saber que, não apenas naquele
tempo, pessoas indiferentes ou perversas te rejeitam e perseguem. Outras, de
forma mais sutil, te substituem por um personagem que não tem nada a ver
contigo. Inventaram um personagem que habita nas vitrines e se movimenta nos
centros comerciais, que promove vendas e vende ilusões, que martelam nossos
ouvidos pedindo que ignoremos restrições de movimentação e cuidados preventivos
contra um vírus que mata. E tem ainda aquelas que, usando teu nome, arrancam
dos teus amados o pouco que lhes resta, a fé no teu Evangelho.
Em meio a tudo isso que vem acontecendo à
margem da tua visita, e até em nome dela, ousamos pedir-te em prece: alegra-te,
Jesus Menino, com nosso desejo de te acolher com carinho, de te amar, de sacrificar-nos
por ti e por aqueles/as que amas. Tua pobreza nos enriquece, e nossa pobreza te
enternece. Conheces todas as nossas carências, mas és o fogo da caridade, e saberás
purificar nosso coração de tudo o que não for do teu agrado e não for útil aos
nossos irmãos e irmãs. Tu és santo e amável, e nos fecundarás com tua graça,
para que possamos fazer parte da tua família, “Fratelli tutti”, neste e em
todos os tempos, nas imensas arenas do Brasil e em todas arenas que nos chamam
desejosas de hospedar-nos.
Vem, Jesus, ocupa teu lugar em nossa vida,
reconquista o senhorio nas tuas Igrejas, anima os empobrecidos com teu
Evangelho, fustiga os opressores com tua profecia. Acorda-nos com tua santa
inquietação, mobiliza-nos com tua incansável compaixão. Ajuda-nos a lançar na
fogueira acesa nessa noite tudo o que induz nos à violência, à indiferença, ao
amor próprio, à irresponsabilidade, à conivência com podres poderes. Que aqui,
ao redor dessa mesa que transformaste em berço, e sob esse céu que
transformaste em casa, renasça e se fortaleça a imensa caravana dos homens e
mulheres de boa vontade, dessa gente disposta a sonhar e construir contigo a
Humanidade Nova.
Itacir Brassiani msf
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