terça-feira, 22 de dezembro de 2020

ANO B | SOLENIDADE DO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO | MISSA DA NOITE | 24.12.2020

A pobreza de Deus nos enternece, enriquece, congrega e liberta!

O tempo de preparação chegou ao seu termo. Estamos satisfeitos/as, pois nossa preparação para esse momento foi iluminada pela tua santa Palavra, na qual também nos alimentamos diariamente. É claro que em alguns dias faltou-nos o apetite, e nos aproximamos da mesa mais por hábito que por desejo. Reconhecemos também que, em vários momentos, o foco da atenção não foste tu, tua visita e teu projeto. Tu sabes, são tantas as obrigações e reponsabilidades que pesam sobre nós...

Mas há outras coisas que nos distraíram e preocuparam. Este ano não foi dos melhores para o povo que tu amas. Nosso Presidente, com a colaboração dos sócios que o impuseram, saqueou descaradamente a nação, sob o olhar impassível e a inércia criminosa da justiça. Ele acendeu velas reverentes à voracidade do mercado, se submeteu à violenta vontade do capital, confinou de novo índios e negros, caçou direitos conquistados com sangue e suor e ignorou cinicamente a pandemia que ceifou quase duzentas mil brasileiros/as.

Marcado por tudo isso, reunimo-nos como teu povo para te contemplar e acolher. Ao nosso redor, além destes/as que aqui vieram para te escutar e acolher, há gente que já dorme sossegadamente, alguns festejam irresponsavelmente, mas muitos/as estão reclusos/as, bebendo amargos goles de medo e de perdas irreparáveis.  No entanto, no calor dessa noite, aqui vimos para vigiar com nossos irmãos e irmãs, para meditar sossegadamente sobre o mistério dessa noite, sobre aquilo que aconteceu em Belém. E repetimos, como um mantra que brota do ventre da terra: “Vem, Jesus, estamos te esperando, e precisamos de ti!”

Começamos fixando a atenção nos teus queridos pais. Sentindo que a hora esperada se aproxima, rejeitados pelos habitantes da cidade, procuraram abrigo numa estrebaria. Não havia lugar para eles e para ti na cidade, ocupada com tanta coisa desimportante. Mas eles prepararam o melhor lugar que puderam para ti. Também nós somos pobres criaturas, e não temos senão uma miserável manjedoura, onde depositamos uns poucos feixes de palha. Mas, te oferecemos tudo o que temos e o que somos, Menino querido, Deus amável!

Confessamos que tua pobreza toca-nos profundamente, e nos enternece. Estamos comovidos/as, e as lágrimas insistem em brotar silenciosamente dos olhos. Queríamos te abraçar, te dar proteção, te oferecer tanta coisa, mas não temos nada de melhor e mais importante que isso que estamos te oferecendo. Por isso, Jesus, embeleza e enriquece nossa vida com a tua presença. Adorna nossa caminhada com a tua graça. Queima essas palhas secas e transforma elas em macio berço para o teu santíssimo corpo, tu que, desde sempre, sonhaste e desejaste fazer-te um de nós. 

Causa-nos tristeza saber que, não apenas naquele tempo, pessoas indiferentes ou perversas te rejeitam e perseguem. Outras, de forma mais sutil, te substituem por um personagem que não tem nada a ver contigo. Inventaram um personagem que habita nas vitrines e se movimenta nos centros comerciais, que promove vendas e vende ilusões, que martelam nossos ouvidos pedindo que ignoremos restrições de movimentação e cuidados preventivos contra um vírus que mata. E tem ainda aquelas que, usando teu nome, arrancam dos teus amados o pouco que lhes resta, a fé no teu Evangelho.

Em meio a tudo isso que vem acontecendo à margem da tua visita, e até em nome dela, ousamos pedir-te em prece: alegra-te, Jesus Menino, com nosso desejo de te acolher com carinho, de te amar, de sacrificar-nos por ti e por aqueles/as que amas. Tua pobreza nos enriquece, e nossa pobreza te enternece. Conheces todas as nossas carências, mas és o fogo da caridade, e saberás purificar nosso coração de tudo o que não for do teu agrado e não for útil aos nossos irmãos e irmãs. Tu és santo e amável, e nos fecundarás com tua graça, para que possamos fazer parte da tua família, “Fratelli tutti”, neste e em todos os tempos, nas imensas arenas do Brasil e em todas arenas que nos chamam desejosas de hospedar-nos.

Vem, Jesus, ocupa teu lugar em nossa vida, reconquista o senhorio nas tuas Igrejas, anima os empobrecidos com teu Evangelho, fustiga os opressores com tua profecia. Acorda-nos com tua santa inquietação, mobiliza-nos com tua incansável compaixão. Ajuda-nos a lançar na fogueira acesa nessa noite tudo o que induz nos à violência, à indiferença, ao amor próprio, à irresponsabilidade, à conivência com podres poderes. Que aqui, ao redor dessa mesa que transformaste em berço, e sob esse céu que transformaste em casa, renasça e se fortaleça a imensa caravana dos homens e mulheres de boa vontade, dessa gente disposta a sonhar e construir contigo a Humanidade Nova.

Itacir Brassiani msf

(Profeta Isaías 9,1-6 * Salmo 95 (96) * Carta a Tito 2,11-14 * Lucas 2,1-14)

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