A cultura do cuidado é uma via importante
para construir a paz!
Na celebração cristã
do Novo Ano se entrelaçam três questões: o começo de um novo ano civil; a
maternidade de Maria; e a Jornada Mundial
pela Paz. Hoje, Paulo nos recorda que Deus nos enviou seu Filho quando o
tempo se cumpriu e chegou à maturidade. Nascendo de Maria, o Filho de Deus
desceu e se igualou ao ser humano comum. Mas também nos resgatou do domínio
escravizador das leis e instituições, e nos deu a adoção filial e a liberdade.
Desde então, vivemos na liberdade dos filhos e filhas, e o Espírito derramado
em nossos corações nos deu a possibilidade de clamar a Deus como os filhos se
dirigem ao pai e à mãe.
Não somos mais
escravos, mas filhos e herdeiros! Acolhido por nós e no meio de nós, Jesus de
Nazaré pacifica o mundo estabelecendo relações novas, baseadas na justiça e na
fraternidade. E ele cumpre a promessa de Deus e realiza a esperança da
humanidade através dos homens e mulheres de boa vontade, dos/as líderes
autênticos/as e das organizações que não se resignam à paz aparente, à paz
baseada no equilíbrio de forças ou no terrorismo estatal. “Deus te abençoe e te
guarde! Deus mostre seu rosto brilhante e tenha piedade de ti! Deus mostre seu
rosto e te dê a paz!” Falando assim, seremos princípios e príncipes da Paz.
Hoje contemplamos a
chegada dos pastores à gruta Belém. Eles encontram Jesus no seio de uma família
pobre e migrante. Ficam vivamente impressionados com o que veem, e comparam com
tudo aquilo que tinham ouvido da boca do mensageiro de Deus. E compreendem o
mistério de um Deus a quem não apraz a força dos cavalos ou dos tanques, dos
cortejos de acólitos, das doutrinas e dos códigos de direito. Deus se alegra
com o despojamento solidário de quem se faz peregrino e próximo e dos
deslocados e sem-lugar e, por isso, como os pastores, volta louvando e
glorificando a Deus por tudo o que vê e ouve.
Jesus é nossa
Paz! Perdoados e pacificados por ele, tornamo-nos agentes do perdão e
operadores da paz. Na sua mensagem para o dia de
hoje, o Papa Francisco observa com perspicácia que a crise sanitária da
Covid-19 “se transformou num fenômeno plurissetorial e global, agravando
fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática, alimentar, econômica
e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos”. Por isso, não
adiante “esperar desesperadamente” uma vacina que resolva tudo.
Não podemos
desconhecer que, diz ainda o Papa, “ao lado de numerosos testemunhos de
caridade e solidariedade, infelizmente ganham novo impulso várias formas de
nacionalismo, racismo, xenofobia e também guerras e conflitos que semeiam morte
e destruição”. E isso se mostra inclusive na corrida pela posse prioritária das
vacinas que começam a aparecer. O que vemos nos faz lembrar Santo Ambrósio, que
afirmava que “a natureza concedeu todas as coisas aos homens para uso comum.
Portanto, a natureza produziu um direito comum para todos, mas a ganância
tornou-o um direito de poucos”.
Na
referida mensagem o Papa Francisco enfatiza que, para que haja paz, precisamos
aprender a “gramática do cuidado: a promoção da
dignidade de toda a pessoa humana, a solidariedade com os pobres e indefesos, a
solicitude pelo bem comum e a salvaguarda da criação”. Ele nos propõe estes
princípios como uma espécie de bússola que pode suscitar e guiar os esforços
coletivos da humanidade para dar um novo rumo à globalização: que não seja
apenas um projeto econômico ou a globalização da indiferença e da exploração,
mas a globalização da equidade e da solidariedade, condições para uma paz
substancial e duradoura.
E
conclui o Papa: “A cultura
do cuidado – enquanto compromisso comum, solidário e participativo para
proteger e promover a dignidade e o bem de todos; enquanto disposição a interessar-se,
a prestar atenção; disposição à compaixão, à reconciliação e à cura, ao
respeito mútuo e ao acolhimento recíproco – se constitui numa via privilegiada
para a construção da paz. Fazem falta percursos de paz que cicatrizem feridas,
artesãos de paz prontos a gerar, com criatividade e ousadia, processos de cura
e de um novo encontro”.
Deus querido, Pai e Mãe! Iniciando este ano que
desejamos que seja Novo, te pedimos: faz que sejamos construtores de Paz.
Ensina-nos a contemplar e compreender o anseio de Paz e de comunhão que pulsa
no coração do mundo e move a imensa caravana de voluntários e operadores da
saúde. Ajuda-nos a cultivar e consolidar uma cultura do cuidado e do encontro
com os diferentes. Suscita em nós o canto que brota da nossa indestrutível
dignidade de filhos e filhas, e dá-nos experimentar, como a Maria e aos
pastores, a alegria de reconhecer tua grandeza na pequenez e na fragilidade
humana. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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