quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

ANO B – TEMPO DE ADVENTO – TERCEIRO DOMINGO – 13.12.2020

 Vivamos alegres, porque que Ele já está no meio de nós!

Começamos o Advento ouvindo uma ordem clara e forte: “Vigiem!” Depois, fomos convidados a abrir estradas. Hoje, somos convidados à alegria. “Estai sempre alegres”, ordena Paulo. “Transbordo de alegria em Javé”, proclama Isaías. Maria canta: “Meu espírito está em festa pelo meu Deus”. E João Batista mostra o motivo dessa alegria: “Entre vós está alguém que não conheceis...” Que seja assim na liturgia e na vida: celebremos confiantes a visita de Deus caminhando ao nosso lado e à nossa frente, ao lado dos pobres.

Esperando o retorno próximo de Jesus Cristo, os cristãos dos primeiros tempos sentiam-se chamados a levar a sério as profecias, a não apagar o Espírito, a se afastar de toda espécie de maldade, a dar graças a Deus em todas as circunstâncias, a examinar tudo e ficar com o que é bom. E isso não por causa de uma moral abstrata ou de uma ascese rígida, mas porque acreditavam que Aquele que os chamara seria fiel e realizaria suas promessas. Por isso, também rezavam sem cessar e se mostravam sempre alegres.

Isto se mostra também em Maria de Nazaré. Chegando à casa de Isabel e sendo por ela acolhida, Maria levanta a cabeça e solta a voz num louvor que atravessa os séculos e, ainda hoje, ressoa como canto libertário. Sua alegria não tem nada de ingenuidade, muito menos de auto complacência. Olhando para o seio crescido de Isabel e para seu próprio corpo, Maria se alegra com o que Deus está realizando através dos seus filhos e filhas mais humildes. E estende seu à história do seu povo, e percebe Deus rebaixando os poderosos, elevando os humildes e socorrendo os pobres.

João Batista, interrogado sobre sua identidade e missão, se apresenta como testemunha Luz, sinal de algo que está chegando para vencer as trevas e os obstáculos interpostos pelas elites religiosas e políticas, como arauto de novos caminhos. “Eu sou a voz de quem grita no deserto. Endireitai o caminho do Senhor!” Ele é voz que vem do deserto, da periferia, da margem. Com seu batismo, inquieta as autoridades, pois o batismo na água era um rito cívico-religioso que expressava uma passagem de estado, uma mudança de senhorio. E isso relativizava decididamente os poderes religiosos e políticos estabelecidos.

João Batista anuncia que no meio de nós já está presente Alguém que não conhecemos, que vem antes dele e o supera e ultrapassa. Esse Alguém é garantia e início daquela mudança anunciada pelos profetas antigos e simbolizada no batismo cristão. Diante do Messias esperado, sua pregação e seu batismo se mostram relativos e insuficientes. Mesmo sendo o maior entre os profetas, diante de Jesus João não se atreve a desatar as correias das suas sandálias, gesto que simbolizava o protesto de uma viúva diante de um cunhado que se recusasse a desposá-la e dar-lhe descendência, como mandava a tradição.

Jesus não despreza a nossa pobre humanidade. Ele nos ama profundamente, e sela conosco uma aliança duradoura “na justiça e no direito, no amor e na ternura” (cf. Os 2,16-25). Ninguém vai desamarrar a correia das suas sandálias! O Messias que esperamos é o Esposo amado e esperado há séculos, que nos gera como família e como povo, e a celebração do Natal é uma espécie de bodas de Deus conosco. E todos/as sabemos que a preparação de uma festa de casamento, por mais trabalhosa que seja, é sempre marcada pela esperança e pela alegria, não pela tristeza ou pela penitência. Eis a razão da alegria deste “advento”!

Será que Maria e José tinham consciência deste mistério que os envolvia e fecundava? Certamente sim, embora tivessem que caminhar na penumbra da fé. Só aos poucos os contornos do desenho deste mistério foram se clareando. O tumultuado tempo da gravidez de Maria e a paradoxal noite do Natal foram apenas o começo. Maria viu a falta de vinho e acreditou no vinho novo que selou a nova aliança de Deus com seu povo. Jesus foi descobrindo e assumindo progressivamente sua identidade de Noivo e Esposo da humanidade. Mas, de qualquer modo, não podem ser tristes os rostos de quem prepara o Natal! “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O senhor está perto.” (Fil 4,4-5)

Deus, pai e mãe, luz que brilha na fragilidade humana e revela nas criaturas a semente de uma alegria autêntica e quase teimosa: Cobre-nos com o manto da justiça que só pode vir de ti, e enfeita nossos trapos com as joias de uma fé que abraça a esperança e ao amor. Faze que nossas comunidades testemunhem com a vida a boa notícia que desde sempre trazes para os últimos e pobres, para aqueles/as que carecem de autonomia e de alegria. E ajuda-nos a abrir caminhos de solidariedade em meio às montanhas de lixo comercial que abarrota nossos mercados, e a permanecer firmes na escola de Nazaré. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf

Profecia de Isaías 61,1-11 | Lucas 1,49-56 | 1ª. Carta de Paulo Aos Tessalonicenses 5,16-24 | Evangelho de São João1,6-8.19-28

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