VIVER SEM ACOLHER A LUZ
Todos vamos cometendo erros e
desacertos ao longo da vida. Calculamos mal as coisas. Não medimos
bem as consequências das nossas ações. Deixamo-nos levar pela paixão ou pela insensatez.
Somos assim. No entanto, não são esses os erros mais graves. O pior é ter a vida organizada de forma
errada. Vejamos um exemplo.
Todos sabemos que a vida é uma
dádiva. Não fui eu que decidi nascer. Não me escolhi a mim mesmo. Não escolhi
os meus pais nem o meu povo. Tudo me foi
dado. Viver é já, desde a sua origem, receber. A única maneira de viver
sensatamente é receber de forma responsável o que me é dado.
No entanto, nem sempre pensamos
assim. Acreditamos que a vida é algo que nos é devido. Sentimo-nos donos de nós
mesmos. Achamos que a maneira mais acertada de viver é organizar tudo em
função de nós mesmos. Eu sou a única coisa importante! Que importam os outros?
Alguns não sabem viver sem exigir. Exigem
e exigem sempre mais. Têm a impressão de nunca receber o que lhes é devido.
São como crianças insaciáveis, que nunca estão contentes com o que têm. Não fazem mais do que pedir, reclamar,
lamentar-se. Sem se darem conta que se convertem pouco a pouco no centro de
tudo. São a fonte e a norma. Tudo deve ser subordinado ao seu ego. Tudo deve
ser instrumentalizado para o seu proveito.
Então, a vida da pessoa fecha-se sobre ela mesma. Já não se acolhe o presente de cada dia. Desaparece o reconhecimento e
gratidão. Não é possível viver com um coração dilatado. Continua-se a falar
de amor, mas «amar» significa agora possuir, desejar o outro, colocá-lo ao meu
serviço.
Esta forma de enfocar a vida leva a viver fechados a Deus. A pessoa torna-se incapaz de acolher. Não
acredita na graça, não se abre a nada de novo, não escuta nenhuma voz, não percebe
nenhuma presença ou graça na sua vida. É o indivíduo que preenche tudo. É
por isso é tão grave a advertência do Evangelho de João: «A Palavra era luz
verdadeira que ilumina cada homem. Veio ao mundo, e o mundo não a conheceu.
Veio a sua casa, e os seus não a receberam». O nosso grande pecado é viver sem acolher a Luz.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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