sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 06.12.2020

FRESTAS

Há muitas pessoas que já não conseguem acreditar em Deus. Não o rejeitam, mas não sabem que caminho seguir para encontrar-se com Ele. E, no entanto, Deus não está longe. Oculto no interior da vida, Deus segue os nossos passos, muitas vezes errados ou desesperados, com amor respeitoso e discreto. Como perceber a sua presença?

Marcos recorda-nos o grito do profeta no meio do deserto: «Preparai o caminho ao Senhor, endireita as suas veredas». Onde e como abrir caminhos a Deus em nossa vida? Não devemos pensar em vias esplêndidas e livres por onde chegue um Deus espetacular. O teólogo J. M. Rovira diz que Deus se aproxima de nós procurando as frestas que mantemos abertas ao verdadeiro, ao bem, ao belo, ao humano. São esses resquícios da vida que temos que considerar para abrir caminhos a Deus.

Para algumas pessoas, a vida tornou-se um labirinto. Ocupadas em mil coisas, movem-se e agitam-se sem cessar, mas não sabem de onde vêm nem para onde vão. Abre-se nelas uma fresta para Deus quando param para se encontrar com o melhor de si mesmas.

Há pessoas que vivem uma vida «descafeinada», plana e sem transcendência. Para elas, a única coisa importante é permanecer entretidas. Só poderão vislumbrar Deus se começarem a atender ao mistério que bate no fundo da vida.

Outras pessoas vivem submersas na «espuma das aparências». Só se preocupam com a própria imagem, com a aparência e a exterioridade. Estarão mais perto de Deus se procurarem com simplicidade a verdade. E as pessoas, que vivem fragmentadas em mil pedaços pelo ruído, pela retórica, pelas ambições ou pela pressa, darão passos em direção a Deus se se esforçarem por encontrar um fio condutor que humanize sua vida.

Muita gente se encontrará com Deus se souberem passar de uma atitude defensiva perante Ele para uma postura de acolhimento; do tom arrogante à oração humilde; do medo ao amor; da autocondenação à acolhida do Seu perdão. E todos nós daremos mais espaço para Deus em nossa vida se O procurarmos com um coração simples.

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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