301 | Ano B | Semana Santa | Quinta | João 13,1-15
28/03/2024
Com o lava-pés
iniciamos a segunda parte do evangelho de João, que põe em cena o mistério da
paixão de Jesus, e é introduzida pela última ceia, cuja narração se estende por
três capítulos, recheados de diálogos entre Jesus e seus discípulos sobre
questões absolutamente centrais.
Estamos próximos
da festa da páscoa, e Jesus sabe que sua hora chegou. Então, ele se reúne com
seus amigos numa refeição cálida e amistosa que, no costume judaico, precede a
ceia pascal, marcada pela plena consciência em relação ao que está para
acontecer. Ele não é como um profeta ou um mestre surpreendido por
acontecimentos inesperados, mas caminha soberano, consciente e livre para a
entrega da própria vida.
Com o
aparecimento de um novo personagem, o diabo, que atua em Judas, o amor
incondicional de Jesus pela humanidade se torna combate. É neste momento que
ele se despoja do manto da divindade e se reveste do linho da humanidade para
conduzi-la e mantê-la na sua amizade. O
despojamento da encarnação se radicaliza na ceia e na cruz. Abaixando-se para
lavar os pés dos discípulos, Jesus faz o movimento da paixão. Jesus se despoja
de sua condição divina para nos acolher, e retoma sua gloria na manhã da
ressurreição.
Lavando os pés
dos discípulos, Jesus repete o gesto de acolhida que Maria de Betânia havia
feito a ele. Lavar os pés era um ofício degradante, um trabalho reservado aos
escravos pagãos. Jesus lava nossos pés para que participemos da sua vida e
missão de servo excluído. Assim, entende-se a resistência insistente de Pedro,
mas, diante da insistência de Jesus, consente, inclusive pedindo com excesso.
Mas o faz por obediência a um chefe, não por consciência.
Fazendo isso,
Jesus não quer simplesmente demonstrar humildade. O que ele faz é rejeitar de
forma contundente toda forma de superioridade e hierarquia, que não valorize a
dignidade de cada pessoa e perpetua a desigualdade. O amor e o serviço
fraterno, especialmente aos mais vulneráveis, ritualizado no lava-pés, é o
ensaio geral da vida cristã, a “prova dos nove” do amor a Deus.
Meditação:
§ Leia atentamente, com o coração, com todos os sentidos, palavra por
palavra, gesto por gesto, verbo por verbo, esta bela cena
§ Acompanhe o gesto de Jesus, permita que ele lave seus pés, e,
principalmente, entenda o que ele quer transmitir com isso
§ Por que Pedro resiste ao gesto de Jesus? Será que ele não quer
defender a própria superioridade?
§ Por que nos custa tanto reconhecer a dignidade e os direitos
humanos, a absoluta igualdade de todos os seres humanos?
§ O que a dignidade inviolável da pessoa humana, a igualdade de todos
e o amor fraterno tem a ver com a Eucaristia?
Nenhum comentário:
Postar um comentário