292 | Ano B | Solenidade de S. José | Mateus 1,16-24
19/03/2024
Nem sempre São José gozou de uma cidadania ou
um destaque especial na espiritualidade da Igreja. Somente a partir do século
XIX o conhecido carpinteiro de Nazaré, esposo de Maria e pai de Jesus adquiriu
uma relevância maior na liturgia e na devoção. Pio XII o declarou padroeiro dos
trabalhadores, e João XXIII o fez patrono da Igreja universal. O Papa Francisco
incluiu o nome de São José nas orações eucarísticas e dedicou um ano pastoral a
ele.
A liturgia de hoje vê José como o novo “pai
da fé”, como o foi Abraão, que partiu, obediente a Deus, sem saber claramente o
que o esperava. O evangelho de Mateus narra, com objetivo mais espiritual e
cristológico que histórico, alguns acontecimentos protagonizados por José, esse
“gigante silencioso”, como o denominou um teólogo contemporâneo.
Não esqueçamos que José é o marido de Maria.
Mesmo diante daquilo que, para muita gente, era uma evidência de infidelidade e
traição de Maria, ele buscou um jeito de evitar qualquer dano à sua amada. O
que o moveu nisso foi mais que uma simples atitude de respeito e afeto – o que
já seria o bastante! – mas a convicção de que Deus estava escrevendo uma grande
e bela história por essas linhas que lhe pareciam tremendamente tortas. Nada é
impossível para quem crê!
O filho de Deus faz-se carne no coração desta
relação de amor autenticamente humana fecundada pela fé. Um dos sinais da
grandeza de José é sua renúncia ao papel masculino estabelecido pela ideologia
patriarcal, segundo o qual do homem deriva toda e qualquer iniciativa boa e
respeitável. José compreende que Deus não está preso a essa ideologia e não
privilegia o macho, que sua vontade não está contemplada nem é realizada pela
estrutura patriarcal.
Com Maria, José discerne e trilha um caminho
inaudito para realizar a vontade de Deus: decidem viver um casamento que
contraria os costumes e expectativas sociais, que poderá ser incompreendido e
considerada vergonhosa por muita gente. Completando o matrimônio acordado e não
abandonando Maria, eles decidem viver uma existência exigente contracorrente.
Nisso eles são embrião da nova humanidade.
Meditação:
▫
Situe-se espiritualmente na cena descrita por Mateus, e procure
penetrar nos sentimentos e pensamentos de José
▫
Você se dá conta que é exatamente na abdicação dos “direitos”
patriarcais que José mostra sua justiça e Deus se faz carne?
▫
Você percebe que não é na castidade virginal, mas no amor
profundo e inclusivo de José e Maria que nasce o filho de Deus?
▫
Em que sentido o amor conjugal plenamente humano de Maria e José
é uma inspiração para as relações dos casais de hoje?
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