303 | Ano B | Vigília Pascal | Marcos 16,1-7
30/03/2024
A cena da paixão
e morte de Jesus que meditamos ontem terminou laconicamente: ele morre
abandonado pelos discípulos, e acompanhado somente por dois outros executados
com ele; José de Arimatéia, numa ação ambígua compra um lençol, enrola nele e
corpo sem vida de Jesus, deposita-o num túmulo e fecha o túmulo com uma grande
pedra, como que dizendo que tudo estava terminado; mas duas observam tudo à
distância.
Na cena de hoje,
Maria Madalena e duas outras mulheres fazem exatamente o contrário de José de
Arimatéia: compram perfumes para ungir dignamente o corpo de Jesus; saem de
casa de madrugada e vão ao túmulo, preocupadas unicamente com a dificuldade de
rolar a enorme pedra. Caminhando com essa preocupação, acabam dando-se conta
com surpresa que a pedra fora rolada e que a sepultura estava aberta; entram na
sepultura e encontram um jovem vivo, sentado à direita, vestido com uma túnica
branca.
Assustadas com o
que veem (túmulo vazio, roupas que vestem um mártir, vida em vez de morte),
recebem a notícia boa e inesperada: Jesus Nazareno, o Crucificado, não está
ali, como fora a vontade de José de Arimatéia e da elite religiosa de
Jerusalém. E recebem uma missão: ir sem demora avisar os discípulos e Pedro,
que haviam abandonado Jesus e tudo o mais, que Jesus vai na frente deles para a
Galileia, onde será encontrado.
Suspendendo aqui
sua narrativa, o evangelista nos convida a fazer parte desta cena como
protagonistas e dar a ela um final. Voltaremos nós, com Pedro e os demais
discípulos/as à Galileia para recomeçar a utopia do Reino de Deus e reunir a
comunidade estraçalhada pela cruz, compartilhando a compaixão solidária do
Crucificado? Continuaremos iludidos, esperando uma vitória espetacular do Reino
de Deus e da Igreja? Ou lamentaremos a falência e o fracasso de Jesus e do
reino de Deus, como parece entender Arimatéia?
Está em nossas
mãos traçar e testemunhar o final dessa história. É certo que o nosso mundo não
gosta de hospedar sonhadores/as; prefere-os na cruz, na sepultura ou nos
livros. Mas, como sonhadores invencíveis que somos, uma certeza: Jesus nos
precede vivo nas periferias e nas fronteiras.
Meditação:
· Leia atentamente, sem pressa e com todos os sentidos, palavra
por palavra, gesto por gesto, esta cena inusitada e com final aberto
· Por que as mulheres, ao invés de se animarem, ficam
amedrontadas? Estariam convencidas que tudo terminara em tragédia irremediável?
· Marcos nos convoca a escrever o final dessa história:
voltaremos, com Pedro e os demais discípulos/as, à periferia para recomeçar
nossa adesão a Jesus Cristo, com a disposição de compartilhar seu destino?
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