sábado, 9 de março de 2024

O Evangelho de Jesus Cristo em nossa vida (282)

282 | Ano B | 3ª Semana da Quaresma | Sábado | Lucas 18,9-14 

09/03/2024 

Só não vê quem não quer, para não ter que mudar de atitude: vivemos numa sociedade polarizada, com grupos contrapostos por ideologias e por disputa de espaços e poderes. O argumento moral – “nós, os cidadãos de bem; eles, os malfeitores, preguiçosos” – é usado com uma frequência espantosa. E a ideologia da meritocracia acabou oferecendo uma justificação adequada a esta divisão social. 

Alguém pode se surpreender ao constatar que esta mesma postura estava presente na sociedade e no contexto cultural no qual Jesus de Nazaré viveu e atuou. Naquele tempo, vigorava o muro ideológico e religioso que separava e opunha puros e impuros. A ideologia da pureza – que misturava critérios sanitários, religiosos, morais, étnicos e sociais – definia quem era puro e impuro, quem era “cidadão de bem” ou “elemento suspeito”. 

Na parábola de hoje, estes dois grupos ou setores sociais estão tipificados no fariseu e no publicado. O primeiro, se considera e é tratado como homem correto, merecedor, justo, superior, ou cidadão digno. O segundo, é visto e tratado como suspeito, sujo, herege, sem dignidade e sem direito ao respeito e à cidadania. A prática da oração não os torna iguais perante a Deus, apenas escancara as diferenças. 

Para Jesus e seu Evangelho, ninguém pode se arrogar o status de melhor, superior, honrado, merecedor. Todos, fariseus e publicanos, são pecadores e necessitam de conversão. O fariseu, que manifesta na oração seu orgulho e desprezo pelos outros, exatamente por isso também é pecador. A diferença é que o publicano, explicitando a dor da exclusão e a percepção das próprias contradições, é acolhido e justificado, enquanto o fariseu, que se considera justo, melhor e superior aos demais, continua devendo. 

A humildade não é um simples ou falso sentimento de inferioridade, mas a consciência justa e correta daquilo que somos: vazio, dependência, ambiguidade, desejo. É o reconhecimento de que somos todos devedores uns aos outros, de que ninguém – começando por mim mesmo/a – é maior e melhor que ninguém. Somos o que somos por graça de Deus. 

 

Meditação: 

  • Situe-se no templo, como quem foi rezar com o fariseu e o publicano, e observe a postura e as palavras deles 

  • Com qual deles você se parece quando reza? Você se apresenta diante de Deus ostentando seus méritos? 

  • Você considera a humildade uma limitação à sua personalidade e o orgulho e o mérito uma expressão de sua grandeza? 

  • Como assumir com serenidade e verdade diante de Deus a nossa condição de pecadores e devedor necessitados de misericórdia? 

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