domingo, 23 de novembro de 2025

46ª Romaria de Schoestatt

Com Maria, somos peregrinos de Esperança

 

Aqui estamos como romeiros e peregrinos de Esperança. Peregrinos com a Mãe Peregrina. Peregrinos com uma humanidade peregrina. Peregrinos que caminham juntos.

Aqui estamos celebrando a solenidade de Cristo Rei. E aos pés da cruz está a Mãe Rainha, e estamos nós, cidadãs e cidadãos do Reino.

Não podemos esquecer: nosso Rei é um cordeiro imolado, um homem crucificado entre dois outros crucificados, excluídos da cidade. É ele o homem digno de receber sabedoria, força, honra, a glória e o louvor.

Este Deus que se fez homem, que se fez pobre, que se fez peregrino e irmão de todos e de todas, é o início e o fim de tudo, o primogênito da criação, o reconciliador.

Ele é a imagem do Deus invisível: perseguido, condenado, ridicularizado, desafiado por gente piedosa e por pagãos, compreensivo, acolhedor e solidário com os condenados.

Ele é a imagem do Homem Novo: despojado, solidário, próximo, peregrino, livre de medos e apegos, de ambições e de competições.

É este o Filho que a Mãe nos entrega. E ela é Rainha, Vencedora e mil vezes Admirável porque venceu a tentação de querer um filho bem-sucedido, famoso; um príncipe distante de tudo e de todos, sentado num trono, indiferente à sorte da humanidade, um príncipe que se recusa a peregrinar porque chegou no topo da pirâmide.

Prestemos a atenção à cena do Evangelho; não caiamos na tentação de pintá-la com cores agradáveis. Esta mão é propriamente uma cena de investidura e coroamento de Jesus de Nazaré como rei.

A cena não ocorre num palácio ou num templo, num clube ou num salão de festas. É uma cena de crucificados fora dos muros da cidade, no espaço para onde eram expulsos aqueles que não agradavam aos reis e senhores.

Rei de quem é Jesus se ele é recusado, condenado e entregue à morte pelo seu próprio povo? Que tipo de rei é uma pessoa pregada na cruz entre dois condenados; ridicularizado pelos pagãos, questionado pelos concidadãos?

Que tipo de rei é alguém cuja coroa não tem diamantes, mas espinhos? O título de rei dos judeus, escrito e pendurado na cruz é mais uma acusação e uma gozação que uma louvação.

Por que se chegou a isso? Por que impuseram a Jesus Nazareno a ignomínia da cruz? Porque ele colocou a vida das pessoas acima das leis. Porque trouxe os pobres e excluídos para o centro da religião.

Porque disse que a grandeza do império romano é baseada na exploração. Porque acusou os líderes religiosos de colocar seus interesses no lugar da vontade de Deus, de serem como sepulturas enfeitadas.

Ele chegou a isso porque sentou à mesa com os pobres, porque acolheu mulheres consideradas pecadoras, porque atravessou fronteiras e acolheu os pagãos.

Porque disse que uma ovelha em perigo é mais importante do que 99 que estão bem, porque acusou as autoridades de serem pastores mercenários, porque disse que sua mãe e seus irmãos são aqueles que fazem a vontade do pai.

Este é o nosso rei, essa é a cabeça da Igreja. E o primeiro a receber o título de cidadão do seu reino é um dos condenados que lhe fazem companhia.

Não desprezemos os condenados, não nos afastemos dos desprezados, pois eles entram no Reino à nossa frente. Quem diz isso é nosso Rei e Salvador.

E Maria, a quem saudamos como, Mãe Peregrina é Admirável porque é Mãe de um Deus assim maravilhoso e próximo, despojado de todo sinal de poder.

Nossa Senhora é admirável porque Mãe do Redentor, daquele que não se envergonha de nos tratar como irmãos e irmãs, porque é carne da nossa carne.

Nossa Senhora é admirável porque é Mãe dos cidadãos do Reino, começando por aqueles que estão crucificados e condenados com Jesus, daqueles que são excluídos e culpabilizados pelos próprios sofrimentos.

Santo Agostinho nos ensina que Maria acolheu plenamente a vontade do Pai. Por isto ele é mais admirável e feliz por ser discípula de Cristo do que por ser mãe de Cristo. Ela é feliz porque, já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o no coração.

Os evangelhos relatam que, quando uma mulher exclamou diante de Jesus que é bem-aventurado o ventre que gerou e o seio que o amamentou, ele disse que muito mais felizes aqueles que ouvem a palavra de Deus e a guardam.

Também aqui, Maria é feliz porque ouviu a palavra de Deus e a guardou. Guardou a verdade sobre a dignidade humana e a compaixão de Deus mais na mente do que a carne no seio.

Maria Admirável, Maria Rainha, Maria Vencedora! Tudo isso é verdade, mas a Igreja é maior que a Virgem Maria, diz Santo Agostinho. Maria é parte da Igreja, membro santo, membro excelente, mas membro do corpo, cuja cabeça é o Cristo.

Por isso, com Maria somos peregrinos de esperança, e demonstramos isso na caminhada simbólica que acabamos de fazer. Com Maria somos ouvintes e guardiães do Evangelho. Com Maria reinamos de vencemos a tentação de ser indiferentes, de agredir e cominar, de competir e derrotar, de consumir e acumular.

Com a Mãe e Rainha somos muitas vezes admiráveis aos olhos de Deus se formos capazes de caminhar apressadamente para servir quem necessita e depende de nós; se formos capazes de permanecer aos pés da cruz daqueles que sofrem enfermidades, de quem não está sem casa e sem guarida, da natureza devastada e agredida, dos cidadãos tratados como incômodos que devem ser eliminados.

Com Maria somos vencedores e admiráveis se não fecharmos os olhos aos miseráveis, se coroarmos de dignidade e reconhecimento aquelas pessoas que nossa sociedade desigual e violenta insiste em tratar como perdedores, sem dignidade, sem direitos, sem nada.

É da contemplação de Jesus crucificado em meio a dois condenados, de braços abertos e estendidos aos que sofrem com ele, de ouvidos fechados àqueles que o desprezam e provocam, que brota a Esperança que nos faz peregrinos.

E então, dos pés da cruz e dos crucificados, caminhamos com ele até a mesa dos peregrinos, a essa mesa da eucaristia, e escutamos essas palavras que nos confirmam e empoderam: “Isso é meu corpo, isso é meu sangue. É minha vida dada por vocês; é a assinatura de uma aliança nova e eterna com a humanidade”.

E nos pede: “Façam isso em memória de mim”, para que a humanidade seja mais humana, para que o mundo seja mais justo e igualitário, para que a Esperança ocupe o lugar do vazio, para que as igrejas e comunidades caminhem juntas, e não paralelas, concorrentes ou em direções contrárias.

Assim seremos cidadãos do Reino de Deus e irmãos do Rei Servidor, filhos legítimos da Mãe Rainha e Vencedora mil vezes admirável e bendita pelo fruto do seu ventre, Jesus!

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