Jesus não tolera a exploração em nome da fé
907 | 24 de novembro
de 2025 | Lucas 21,1-4
Uma interpretação muito
comum dessa passagem sublinha e elogia a generosidade da viúva: ela
simbolizaria a generosidade dos os pobres, daquelas pessoas que entregam tudo a
Deus e vivem unicamente da confiança nele. Nisso se diferenciariam dos ricos,
que o são porque só confiam em si mesmos e porque são pouco generosos no dar a
Deus ou à Igreja.
Uma interpretação correta
deve levar em consideração que Jesus, em sua missão profética, não alimenta
nenhuma simpatia pelo templo. Ele sabe muito bem, e denuncia, que o templo se
tornou meio para roubar e oprimir os pobres. Um pouco antes da cena de hoje,
ele havia expulsado os vendedores que comercializavam no templo (19,45-48). E,
minutos antes da cena de hoje, pedira cuidado com os doutores da lei, porque
eles “devoram as casas das viúvas” e disfarçam o roubo com orações”.
Ao que parece, estando no
templo, Jesus não se dedica à oração ou ao oferecimento de sacrifícios, mas
observa atentamente o que fazem os ricos e o que os pobres devem fazer no
templo. E vê na cena de hoje exatamente um exemplo de como os doutores da lei,
agindo no templo com aparente piedade e retidão, roubam os bens das viúvas.
Jesus não elogia a viúva, mas acusa os doutores da lei, que dirigem o templo! Ele
denuncia a rapina praticada no templo em nome de Deus.
Observando tanto a viúva
como os ricos, Jesus afirma que, ofertando apenas duas moedas, a viúva
depositou “mais do que todos”. Na verdade, pressionada pela pregação dos
doutores da lei e dos fariseus, ela acaba entregando ao templo “tudo quanto
tinha para viver”. Eis a razão da ira de Jesus contra essa gente hipócrita! As
palavras de Jesus condenam a exploração da viúva em nome da religião.
Interpretando
o Evangelho dessa forma não estamos traindo o ensino de Jesus. Ao contrário,
desmascaramos as interpretações feitas sob medida para expropriar dos pobres e
humilhados as migalhas que lhes restam, como ainda hoje costumam fazer muitos
“apóstolos”, em nome de Jesus. Jesus e sua Igreja precisam ser uma boa notícia
para os pobres, e não uma espécie alfândega legalista e sem coração,
direcionada ao enriquecimento de quem já tem muito.
Sugestões para a meditação
§
Releia com paciência e demoradamente esta cena, assim
como os versículos que a antecedem
§
As palavras de Jesus são um elogio para a viúva pobre
ou uma acusação aos ricos e aos doutores da lei?
§
Você observa algo semelhante nas igrejas e templos de
hoje?
§
O que fazer para que, ensinando que todos são iguais
perante a lei, não escondamos a exploração dos mais fracos?
§ Como evitar que o
dízimo, que é expressão de partilha responsável, se converta em uma prática
injusta?
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