terça-feira, 4 de novembro de 2025

O general e o construtor

Sem lucidez e despojamento não vamos longe

888 | 05 de novembro de 2025 | Lucas 14,25-33

A ligação desta cena com a anterior parece ser as desculpas da elite religiosa e econômica de Israel para não aceitar o convite à festa do Reino: “Acabei de casar e, por isso, não posso ir; comprei um campo, e preciso ir vê-lo; comprei cinco juntas de boi, e vou experimentá-las”. Os interesses individuais parecem-lhes álibi suficiente para não se engajar na obra de Deus e não participar daquilo que é bem comum.

Diante de uma relativa multidão que manifesta interesse por ele, Jesus volta a enfatizar a prioridade do Reino de Deus sobre vínculos familiares e interesses pessoais, pedindo que cada um avalie os riscos e exigências da opção de segui-lo, a fim de “não fazer feio” e “cair fora” logo depois de ter iniciado com entusiasmo.

Para deixar isso bem claro, Jesus recorre a duas parábolas: a primeira fala do planejamento para a construção de uma torre; a segunda se refere à preparação dos soldados para uma batalha. Em ambos os casos, o sujeito em questão deve analisar bem os recursos e forças disponíveis, fazer os cálculos e concluir se consegue ou não levar a obra ou a luta até o fim.

Jesus já havia advertido seus discípulos sobre o risco de sofrer uma morte violenta e ignominiosa, inclusive em nome da religião. É como se no episódio de hoje ele quisesse dizer aos candidatos a discípulos: segui-lo é uma decisão muito comprometedora. Usando um ditado popular, não se trata de entrar na omelete como entra a galinha (dando os ovos) mas como participa o porco (dando a carne).

É claro que, com essas parábolas, Jesus não pretende desencorajar ninguém. O que ele quer é advertir-nos que não é possível aderir ao Reino de Deus pela metade, iludir-se com a possibilidade de servir a dois senhores. A perseverança pressupõe uma decisão lúcida e consciente, que precisa sempre contar com as renúncias e riscos. Não dá para mandar amontoar cadáveres e, em seguida, cantar na missa.

Lucas conhece a inconstância e os sinais de retrocesso das comunidades diante das dificuldades que enfrentam. O núcleo dos perigos é o apego às riquezas, das quais a família patriarcal é um dos elos importantes. Mas o questionamento de Jesus também nos faz refletir sobre um cristianismo vivido no “oba-oba”.

 

Sugestões para a meditação

§ A maioria de nós iniciou a caminhada da fé cristã sem reflexão e consciência sobre as exigências que ela comportaria

§ O que tínhamos presente era apenas um conjunto de obrigações e proibições de ordem moral, que não tocavam nos bens

§ Hoje, com a aguda consciência que temos, precisamos renovar essa opção avaliando bem os custos e as nossas possibilidades

§ O que é que está nos pressionando mais e tornando menor nossa adesão ao Evangelho, dificultando a nossa perseverança?

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