Sem lucidez e
despojamento não vamos longe
888 | 05 de novembro
de 2025 | Lucas 14,25-33
A ligação desta cena com a anterior
parece ser as desculpas da elite religiosa e econômica de Israel para não
aceitar o convite à festa do Reino: “Acabei de casar e, por isso, não posso ir;
comprei um campo, e preciso ir vê-lo; comprei cinco juntas de boi, e vou
experimentá-las”. Os interesses individuais parecem-lhes álibi suficiente para
não se engajar na obra de Deus e não participar daquilo que é bem comum.
Diante de uma relativa multidão que
manifesta interesse por ele, Jesus volta a enfatizar a prioridade do Reino de
Deus sobre vínculos familiares e interesses pessoais, pedindo que cada um
avalie os riscos e exigências da opção de segui-lo, a fim de “não fazer feio” e
“cair fora” logo depois de ter iniciado com entusiasmo.
Para deixar isso bem claro, Jesus
recorre a duas parábolas: a primeira fala do planejamento para a construção de
uma torre; a segunda se refere à preparação dos soldados para uma batalha. Em
ambos os casos, o sujeito em questão deve analisar bem os recursos e forças disponíveis,
fazer os cálculos e concluir se consegue ou não levar a obra ou a luta até o
fim.
Jesus já havia advertido seus
discípulos sobre o risco de sofrer uma morte violenta e ignominiosa, inclusive
em nome da religião. É como se no episódio de hoje ele quisesse dizer aos
candidatos a discípulos: segui-lo é uma decisão muito comprometedora. Usando um
ditado popular, não se trata de entrar na omelete como entra a galinha (dando
os ovos) mas como participa o porco (dando a carne).
É claro que, com essas parábolas,
Jesus não pretende desencorajar ninguém. O que ele quer é advertir-nos que não
é possível aderir ao Reino de Deus pela metade, iludir-se com a possibilidade
de servir a dois senhores. A perseverança pressupõe uma decisão lúcida e
consciente, que precisa sempre contar com as renúncias e riscos. Não dá para mandar
amontoar cadáveres e, em seguida, cantar na missa.
Lucas conhece a inconstância e os
sinais de retrocesso das comunidades diante das dificuldades que enfrentam. O
núcleo dos perigos é o apego às riquezas, das quais a família patriarcal é um
dos elos importantes. Mas o questionamento de Jesus também nos faz refletir
sobre um cristianismo vivido no “oba-oba”.
Sugestões para a meditação
§ A maioria de nós iniciou a caminhada
da fé cristã sem reflexão e consciência sobre as exigências que ela comportaria
§ O que tínhamos presente era apenas um
conjunto de obrigações e proibições de ordem moral, que não tocavam nos bens
§ Hoje, com a aguda consciência que
temos, precisamos renovar essa opção avaliando bem os custos e as nossas
possibilidades
§ O que é que está nos pressionando mais
e tornando menor nossa adesão ao Evangelho, dificultando a nossa perseverança?
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