O sol saía de noite, os mortos fugiam das suas
sepulturas, qualquer bufão era rei, o manicômio ditava as leis, os mendigos
eram senhores e as damas jorravam chamas. E no final, quando chegava a Quarta-feira de Cinzas, as pessoas
arrancavam as máscaras, que não mentiam, e tornavam a exibir suas caras, até o
ano seguinte.
No século XVI, o imperador Carlos determinou em Madri
o castigo do carnaval e seus desenfreios: “Se for pessoa baixa, cem açoites
públicos; se nobre, que o desterrem por seis meses...” Quatro séculos depois, o
generalíssimo Francisco Franco proibiu o carnaval num de seus primeiros
decretos de governo.
Invencível festa pagã: quanto mais a proibiam, com
mais força voltava.
(Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2008, p. 275-276)
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