Evangelização e Direitos
Humanos
No último
dia 6 de fevereiro o grupo dos Promotores
de Justiça, Paz e Integridade da Criação de língua espanhola e portuguesa (PJPIC,
grupo subordinado às Uniões dos/as Superiores/as Gerais) realizou seu encontro
mensal. Desta vez o encontro foi realizado na sede do Pontifício Conselho Justiça e Paz (organismo da Sede Apostólica), e
teve como tema a relação entre evangelização e promoção dos direitos humanos.
Vista Parcial do Palacio S. Calixto, sede do PCJP |
O Pontifício Conselho Justiça e Paz (PCJP)
No
primeiro momento, a senhora Flaminia Giovanelli, que há décadas atua como
subsecretária do PCJP, infornou-nos sobre as atividades deste conselho pontifício.
Trata-se de um organismo da Igreja universal que tem como finalidade: promover
a justiça e a paz no mundo; aprofundar a doutrina social da Igreja; recolher
informações e resultados de pesquisas sobre justiça, paz, desenvolvimento dos
povos e violação dos direitos humanos; criar consciência sobre os valores da
justiça, da paz e dos direitos humanos. Seus campos de ação do PCJP são a justiça
(trabalho, desenvolvimento, economia e finanças, ecologia), a paz
(guerra, desarmamento, violência, segurança, política, terrorismo) e os direitos
humanos (preocupação com as vítimas da violação dos direitos humanos,
aprofundamento do sentido e das implicâncias dos direitos humanos).
Quanto ao
modo de atuação, o PCGP tem uma ampla rede de interlocutores e colaboradores,
que vai do Papa e da Cúria Romana às associações leigas enraizadas nos diversos
países e dioceses, passando pelas congregações e movimentos religiosos,
conferências episcopais e seus organismos, dioceses e suas organizações.
Merecem destaque a colaboração com o mundo universitário e acadêmico e a destacada
perspectiva ecumênica de todos os trabalhos e projetos.
Defesa da dignidade humana
Em
seguida, a senhora Cristine Jeangey, assessora do PCJP, falou-nos sobre os
direitos humanos na missão evangelizadora. Há décadas, desde o Concílio Vaticano II, a Igreja católica
afirma oficialmente que a defesa dos direitos humanos é parte essencial da
evangelização. Entretanto, como ocorre também coms os países signatários das
sucessivas e complementares declarações dos direitos humanos, econômicos,
sociais, culturais e ambientais, infelizmente há uma enorme distância entre as
declarações oficiais e a prática concreta dos cristãos e da hierarquia da
Igreja.
Desde
sempre, em consonância com as diferentes linguagens e sensibilidades culturais,
o cristianismo se declarou e se colocou a serviço do ser humano. Mas,
especialmente a partir do século XX, o serviço ao ser humano passa
necessariamente pela defesa dos direitos humanos. O melhor meio de trabalhar
pelo ser humano consiste hoje na promoção e na prática efetiva dos direitos
humanos. Esta é uma das constantes mais destacadas do ensino social do Papa
João Paulo II.
Em 1979,
a Conferência de Puebla assinalava
que a proclamação dos direitos humanos é elemento indispensável da missão
evangelizadora da Igreja, pois a realização plena da pessoa humana, a serviço
da qual a Igreja se engaja inteiramente, é alcançada quando seus direitos
fundamentais são reconhecidos, tutelados e realizados. Assim, o cristrianismo
se proclama a si mesmo como defensor dos direitos humanos.
Vista parcial do grupo de Promotores de Justiça e Paz (PJPIC) |
A
afirmação dos direitos humanos no nível teórico e prático se abre como um
espaço de diálogo, encontro e cooperação entre crentes e não-crentes, entre
cristianismo e sociedade civil. A afirmação do valor absoluto dos direitos
humanos não é um motivo de conflito e distanciamento entre teístas e ateus, mas
uma oportunidade e uma garantia de diálogo respeitoso e frutífero.
Passar do anúncio à ação
Para os
cristãos o desafio não é levar a questão de Deus para dentro do tema dos
direitos humanos, mas colocar a questão dos direitos humanos no próprio núcleo
da reflexão sobre Deus e da prática eclesial. Para a Igreja em geral, e para a
vida consagrada em particular, a promoção dos direitos humanos tem consequências
e abre possibilidades muito concretas. Antes de tudo, pede a conversão profunda e permanente de suas instituições
e prioridades, começando pela introdução da sensibilidade pelos direitos
humanos em todas as suas obras (educativas, sanitárias, assistenciais,
evangelizadoras, etc.).
Uma
segunda consequência – possibilidade e exigência! – é reorganizar seus quadros de pessoal e seus instrumentos a partir
das urgências dos direitos humanos. No momento atual da nossa história, a
defesa e a promoção dos direitos humanos é uma urgência mais que primária, e,
como cristãos e religiosos, não podemos imitar o sacerdote e o levita da
conhecida parábola: em nome da missão ‘puramente religiosa’, ignorar as pessoas
desrespitadas em seus direitos fundamentais. Esta reorganização de pessoas e
prioridades pode nos pedir um deslocamento
geográfico (buscar zonas onde estes direitos urgem) e deslocamento social (potencializar situações, ambientes egrupos
sociais em situação de vulnerabilidade).
Mas é
preciso ir mais adiante e ser mais concreto. Além de converter as instituições
e serviços já existentes, a Igreja e a vida consagrada precisam ousar e criar novos serviços e dar vida a novos
movimentos e organismos para chegar aos grupos e áreas não acessíveis aos instrumentos
atuais. As situações de discriminação racial, de multidões de migrantes e
refugiados, de prostituição, de dependentes químicos, de pobres e famintos – só
para citar algumas – pedem-nos grandes doses de ousadia e criatividade.
Mas tudo
isso supõe um outro passo, mais básico e fundamental: que a Igreja e as
congregações religiosas respeitem e
promovam os direitos humanos nas suas relações internas; que os direitos
humanos sejam um valor e um princípio claramente
presente no seu anúncio e perceptível na sua liturgia; que nenhum grupo ou
movimento ou agente religioso ou eclesiástico pretenda prestar serviço a Deus ignorando ou combatendo os direitos humanos.
Infelizmente devemos reconhecer que, apesar de todos os esforços e de
testemunhos heróicos, neste aspecto fundamental ainda temos um longo caminho a
percorrer.
Itacir Brassiani msf
Nenhum comentário:
Postar um comentário