O milho, planta sagrada dos maias, foi
batizado com vários nomes na Europa. Os nomes inventavam geografias: foi
chamado de grão turco, grão árabe, grão do Egito e grão da Índia. Estes erros
não contribuíram em nada para salvá-lo da desconfiança nem do desprezo. Quando
se soube de onde vinha, não foi benvindo. Foi destinado aos porcos. O milho
rendia mais que o trigo e crescia mais rápido, aguentava a seca e dava bom
alimento, mas não era digno das bocas cristãs.
A batata também foi fruto proibido na
Europa. Como o milho, foi condenada por causa da sua origem americana. Para
piorar, a batata era uma raiz criada no fundo da terra, onde o inferno tem suas
cavernas. Os médicos diziam que ela provocava lepra e sífilis. Na Irlanda se
acreditava que se uma mulher grávida comesse batata de noite, de manhã paria um
monstro. Até o final do século XVIII a batata estava destinada aos presos, aos
loucos e aos moribundos. Depois, essa raiz maldita salvou os europeus da fome. Mas
nem assim as pessoas deixaram de se perguntar: “Se a batata e o milho não são
coisas do diabo, por que a Bíblia não os menciona?”
(Eduardo Galeano, Espelhos, L&PM, 2008, p. 127)
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