“Tu me alegras, senhor, com
as tuas maravilhas!”
(http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=61072) |
Gosto
muito do Salmo 92/91. Leio-o frequentemente e com prazer. Ele me alimenta. E me
dá asas. Tanto para os hebreus como para os cristãos, é um cântico recomendado
para a oração do sábado. “É belo louvar o
Senhor e cantar a teu nome, anunciar de manhã o teu amor, e a tua fidelidade
durante a noite... Porque me alegras, Senhor, com tuas maravilhas, exulto com
as obras de tuas mãos!”
O que me
surpreende e anima é a descrição das maravilhas (literalmente, ‘milagres’) que
motivam o louvor. “Se os pecadores brotam como erva e florescem todos os malfeitores,
aguarda-os uma ruína eterna... Porque teus inimigos, Senhor, teus inimigos
perecerão, serão dispersos todos os malfeitores...” Só as pessoas
insensatas não compreendem profundidade do pensamento de Deus e a beleza e
inteligência da sua ação.
Pois é! O
milagre contínuo que Deus está operando não tem nada a ver com dar prosperidade
aos ambiciosos, curar de uma doença ruim, acabar com a seca, mudar o
efeito-estufa, derrubar o presidente do Congresso: ele abrevia o sucesso dos
safados e opressores, mas o faz pelas mãos dos seus mediadores, ou seja, usando
a inteligência e a organização de quem acredita nele. Deus não gosta de
prescindir de nós!
Ao mesmo
tempo, o salmista não cansa de celebrar a longevidade dos justos, o vigor dos
pequenos, a fecundidade dos inconformados: “Tu
me dás a força de um búfalo, me unges com óleo fresco... O justo crescerá como
a palmeira, como o cedro do Líbano se elevará... Mesmo na velhice darão frutos,
serão cheios de seiva e verdejantes, para anunciar quão reto é o Senhor: meu
rochedo, nele não há injustiça...”
Jesus
segue a mesma linha. Ele fala da incomparável força da semente de mostarda, que
esconde dentro de si o vigor de uma grande árvore. Fala também do dinamismo do
fermento, que faz crescer a massa. E da felicidade de que temn espírito de
pobre e de quem chora, de quem luta com mansidão e sem cansaço, de quem tem
fome e sede de justiça, de quem exercita a misericórdia e promove a paz, de
quem não usa palavras duplas e enfrenta perseguições... Estes possuirão a
terra, serão saciados, herdarão o Reino de Deus, serão preciosos testemunhos do
valor da vida.
Não quero
tirar os pés do chão nem resvalar para uma esperança ilusória. Mas para
caminhar não posso manter os dois pés no chão! Que me desculpem os realistas: ser
razoável é desejar o impossível e lutar por ele! A esperança nos revela o que
ainda não é, a fé nos dá asas para voar na sua direção e a solidariedade nos
congrega à caravana dos homens e mulheres de boa vontade.
O
problema não está em sonhar e delirar, mas na qualidade e no conteúdo do nosso
sonho. A questão não está na confianòa em Deus, mas no que esperamos dele. Seus
milagres não costumam dispensar nossa inteligência e operatividade. Suas maravilhas
não são necessariamente coisas fabulosas. Deus é justo, não louco ou
irresponsável! Sua obra mais duradoura e promissora é manter o vigor dos
sonhadores, por mais utópicos que sejam.
Itacir Brassiani msf
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