domingo, 19 de maio de 2013

Dia dos migrantes e Festa dos Povos


Um encontro che provoca mudanças


Há 22 anos a Igreja de Roma celebra o Dia dos Migrantes promovendo a Festa dos Povos. Os ramos feminino, masculino e leigo dos Missionários Scalabrinianos se unem à Cáritas e à Pastoral dos Migrantes da diocese de Roma para patrocinar e organizar este evento já tradicional numa cidade que, não sem resistência, pouco a pouco se assume como multi-étnica e pluricultural.
Neste ano, a festa coincidiu com a solenidade de Pentecostes, e teve como lema “Encontro que provoca mudanças”. Portanto, a festa está se realizando hoje. Começou pela manhã, com a acolhida, na praça da basílica São João de Latrão, dos vibrantes e coloridos grupos de mais de cinquenta comunidades nacionais e étnicas que vivem em Roma e prosseguiu com uma bela e participada missa às 12:00, no interior da basílica.
A missa, presidida por Dom Matteo Zuppi, bispo auxiliar de Roma, exibiu as marcas de uma diversidade digna do Espírito Santo. As diferentes vozes, cores e ritmos ficou evidente nos cânticos: um coro multi-étnico cantou o canto de entrada; o ato penitencial foi animado por grupos de migrantes de Ghana, do Sri Lanka, da China e de Bangladesh; o hino de louvor foi dirigido pela comunidade de migrantes nigerianos; a entrada da bíblia foi cantada pela comunidade congolesa; o salmo responssorial foi cantado pela comunidade libanesa; a sequência de Pentecostes foi entoada pela comunidade brasileira; a aclamação ao Evangelho coube à comunidade de migrantes de Cabo Verde; o canto das oferendas foi responsabilidade da comunidade de indianos; o hino do hosana foi conduzido pela comunidade ucraniana; o canto da paz coube à comunidade de Madagascar; os cantos de comunhão foram conduzidos pelas comunidades filipina e polonesa; e o canto final foi puxado pela comunidade greco-católica da Romênia.
Cada comunidade cantou na sua língua! Mas as diversas línguas também foram ouvidas nas diversas partes da missa. A presidência e a homilia foram feitas, obviamente, em italiano; a primeira leitura, em romeno; a segunda leitura foi proclamada em língua espanhola; as preces foram feitas nas línguas swahili, albanesa, egipciana, etíope, kituba, francesa e eslovaca. Tudo isso em perfeita harmonia e sintonia, coisas que só podem vir do Espírito de amor, cuja missão é abrir portas e estradas, criar comunhão respeitando as diferenças.
Depois da missa, dezoito diferentes comunidades de migrantes (Bangladesh, Brasil, Bolivia, Cabo Verde, Chile, Congo, Colômbia, Eritréia, Filipinas, Ghana, Guatemala, India, Moldavia, Mauricius, Peru, Polônia, Romênia e Ucrânia) ofereceram mais de cinco mil refeições típicas por 5,00 euros. Os diferentes sabores completaram as diferentes cores e vozes. E a tarde está sendo ocupada (deixei a festa às 15:00) por manifestações folclóricas e culturais de mais de trinta grupos.
Na homilia, Dom Matteo Zuppi saudou calorosamente a beleza e a riqueza que a diversidade étnica oferece à cidade e à diocese de Roma. Lembrou que encontros como esse de hoje, mas também os múltiplos, cotidianos e às vezes tensos encontros entre os diferentes realmente nos transformam e, assim, mais cedo ou mais tarde, provocam também mudanças na sociedade e na cultura. E a Igreja não passa e não pode passar ilesa ou indiferente às mudanças trazidas pelo encontro de sujeitos tão diversos e originais.
Mas o bispo auxiliar de Roma lembrou também as dores e feridas que as diferentes comunidades de migrantes carregam no corpo e na alma. Como esquecer que muitos chegam a Roma fugindo da violência e da fome em seus próprios países, deixando longe os familiares e amigos, e depois de atravessar mil perigos e ameaças? Como não lembrar o sofrimento e o medo gerados pela burocracia estatal, esta ilegalidade que acusa os imigrantes de serem ilegais? Como esquecer que aos filhos de migrantes nascidos na Itália ainda é negada a cidadania italiana? Como não denunciar que a maioria dos imigrantes ainda é tratada como estorvo e ameaça, como cidadãos de última classe?
Ainda bem que a Igreja, ao menos em alguns dos seus serviços pastorais, acolhe e valoriza essa diversidade, cuida de suas feridas e promove os valores próprios de cada tradição. É claro que isso é pouco, e a Igreja ainda tem muito caminho a fazer naquilo que se refere à valorização da cultura e das tradições de cada povo. Mas, no núcleo da nossa fé, está a convicção de que Jesus derrubou os muros que separam e as pirâmides que hierarquizam, e não há mais diferença de dignidade entre cristãos e pagãos, ocidentais e orientais, hemisfério norte e hemisfério sul, homens e mulheres, escravos ou livres. Desde os primeiros passos da Igreja, este encontro entre diferenças aparentemente irreconciliáveis provocou mudanças que ainda não chegaram ao seu termo.
Itacir Brassiani msf


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