Um encontro che provoca mudanças
Há 22 anos a Igreja de Roma celebra o Dia dos Migrantes promovendo a Festa
dos Povos. Os ramos feminino, masculino e leigo dos Missionários Scalabrinianos se unem à Cáritas e à Pastoral dos
Migrantes da diocese de Roma para patrocinar e organizar este evento já
tradicional numa cidade que, não sem resistência, pouco a pouco se assume como
multi-étnica e pluricultural.
Neste ano, a festa coincidiu com a solenidade de Pentecostes, e teve
como lema “Encontro que provoca mudanças”. Portanto, a festa está se realizando
hoje. Começou pela manhã, com a acolhida, na praça da basílica São João de
Latrão, dos vibrantes e coloridos grupos de mais de cinquenta comunidades
nacionais e étnicas que vivem em Roma e prosseguiu com uma bela e participada
missa às 12:00, no interior da basílica.
A missa, presidida por Dom Matteo Zuppi, bispo auxiliar de Roma, exibiu
as marcas de uma diversidade digna do Espírito Santo. As diferentes vozes,
cores e ritmos ficou evidente nos cânticos: um coro multi-étnico cantou o canto
de entrada; o ato penitencial foi animado por grupos de migrantes de Ghana, do
Sri Lanka, da China e de Bangladesh; o hino de louvor foi dirigido pela
comunidade de migrantes nigerianos; a entrada da bíblia foi cantada pela
comunidade congolesa; o salmo responssorial foi cantado pela comunidade
libanesa; a sequência de Pentecostes foi entoada pela comunidade brasileira; a
aclamação ao Evangelho coube à comunidade de migrantes de Cabo Verde; o canto
das oferendas foi responsabilidade da comunidade de indianos; o hino do hosana
foi conduzido pela comunidade ucraniana; o canto da paz coube à comunidade de
Madagascar; os cantos de comunhão foram conduzidos pelas comunidades filipina e
polonesa; e o canto final foi puxado pela comunidade greco-católica da Romênia.
Cada comunidade cantou na sua língua! Mas as diversas línguas também
foram ouvidas nas diversas partes da missa. A presidência e a homilia foram feitas,
obviamente, em italiano; a primeira leitura, em romeno; a segunda leitura foi
proclamada em língua espanhola; as preces foram feitas nas línguas swahili,
albanesa, egipciana, etíope, kituba, francesa e eslovaca. Tudo isso em perfeita
harmonia e sintonia, coisas que só podem vir do Espírito de amor, cuja missão é
abrir portas e estradas, criar comunhão respeitando as diferenças.
Depois da missa, dezoito diferentes comunidades de migrantes (Bangladesh,
Brasil, Bolivia, Cabo Verde, Chile, Congo, Colômbia, Eritréia, Filipinas, Ghana,
Guatemala, India, Moldavia, Mauricius, Peru, Polônia, Romênia e Ucrânia) ofereceram
mais de cinco mil refeições típicas por 5,00 euros. Os diferentes sabores
completaram as diferentes cores e vozes. E a tarde está sendo ocupada (deixei a
festa às 15:00) por manifestações folclóricas e culturais de mais de trinta
grupos.
Na homilia, Dom Matteo Zuppi saudou calorosamente a beleza e a riqueza
que a diversidade étnica oferece à cidade e à diocese de Roma. Lembrou que
encontros como esse de hoje, mas também os múltiplos, cotidianos e às vezes
tensos encontros entre os diferentes realmente nos transformam e, assim, mais
cedo ou mais tarde, provocam também mudanças na sociedade e na cultura. E a
Igreja não passa e não pode passar ilesa ou indiferente às mudanças trazidas
pelo encontro de sujeitos tão diversos e originais.
Mas o bispo auxiliar de Roma lembrou também as dores e feridas que as
diferentes comunidades de migrantes carregam no corpo e na alma. Como esquecer
que muitos chegam a Roma fugindo da violência e da fome em seus próprios
países, deixando longe os familiares e amigos, e depois de atravessar mil
perigos e ameaças? Como não lembrar o sofrimento e o medo gerados pela
burocracia estatal, esta ilegalidade que acusa os imigrantes de serem ilegais?
Como esquecer que aos filhos de migrantes nascidos na Itália ainda é negada a
cidadania italiana? Como não denunciar que a maioria dos imigrantes ainda é
tratada como estorvo e ameaça, como cidadãos de última classe?
Ainda bem que a Igreja, ao menos em alguns dos seus serviços pastorais,
acolhe e valoriza essa diversidade, cuida de suas feridas e promove os valores
próprios de cada tradição. É claro que isso é pouco, e a Igreja ainda tem muito
caminho a fazer naquilo que se refere à valorização da cultura e das tradições
de cada povo. Mas, no núcleo da nossa fé, está a convicção de que Jesus
derrubou os muros que separam e as pirâmides que hierarquizam, e não há mais
diferença de dignidade entre cristãos e pagãos, ocidentais e orientais, hemisfério
norte e hemisfério sul, homens e mulheres, escravos ou livres. Desde os
primeiros passos da Igreja, este encontro entre diferenças aparentemente irreconciliáveis
provocou mudanças que ainda não chegaram ao seu termo.
Itacir
Brassiani msf
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