Em 1906, um pigmeu caçado na selva do Congo chegou ao
zoológico de Bronx, em Nova York. Foi chamado de Ota Benga, e foi exibido ao
público, numa jaula, junto com um orangotango e quatro chimpanzés.
Os especialistas explicavam ao público que aquele
humanoide podia ser o elo perdido, e para confirmar essa suspeita o mostravam
brincando com seus irmãos peludos.
Algum tempo depois, o pigmeu foi resgatado pela
caridade cristã.
Fez-se o que foi possível, mas não teve jeito. Ota
Benga se negava a ser salvo. Não falava, quebrava os pratos da mesa, batia em
quem quisesse tocar nele, era incapaz de fazer qualquer trabalho, ficava mudo
no coro da igreja e mordia quem queria se fotografar com ele.
No final do inverno de 1916, depois de dez anos de
domesticação, Ota Benga sentou-se na frente do fogo, se despiu, queimou a roupa
que era obrigado a vestir e apontou para o coração a pistola que havia roubado.
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 167)
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