OMC: QUEM
GANHOU E QUEM PERDEU?
Com a oposição dos países ricos e a má vontade da mídia conservadora brasileira, mas com o apoio coeso das nações em desenvolvimento, o Brasil conquistou o mais importante posto internacional de sua história: a direção da Organização Mundial do Comércio.
Não foi
um ponto fora da curva no novo tabuleiro internacional. A política externa
independente do Itamaraty, adotada desde 2003, firmou o país como
liderança representativa das economias pobres e em desenvolvimento.
Com o
apoio delas, o Brasil já havia vencido a eleição para dirigir
a FAO, em 2012. Um sinal minimizado por uns e desdenhado por outros.
Agora, tornou-se mais difícil ignorar a travessia em curso. O candidato derrotado na OMC, o mexicano
Herminio Blanco, foi um dos arquitetos do Nafta. Alinhado ao pensamento
neoliberal, representava os interesses que jogaram o mundo na pior crise
do capitalismo desde 1929.
A vitória
na FAO, com o ex-ministro José Graziano da Silva, foi a
primeira renovação importante de um organismo internacional, depois da
implosão da ordem neoliberal, em 2008. Graziano derrotou a candidatura
espanhola igualmente apoiada, então, pelos países ricos. O saldo das
urnas revelou o peso da diplomacia independente dos anos Lula.
Com Celso
Amorim e Samuel Guimarães no comando, o Itamaraty faria forte
inflexão em direção ao mundo em desenvolvimento. O continente africano e a
América Latina em peso garantiram o êxito brasileiro na FAO. Foi uma
vitória apertada, mas reveladora de um novo ciclo agora confirmado.
O
êxito na OMC, com Roberto Azevêdo, acontece em meio aos
escombros de cinco anos de desordem neoliberal. Políticas de
autopreservação dos países ricos asfixiam nações pobres. Uma guerra
cambial insana evidencia a imperiosa necessidade de uma coordenação global
que não interessa aos interesses hegemônicos, empenhados em reafirmar
a ocupação do terreno.
Não por
acaso, desta vez a vitória brasileira foi esmagadora. A diferença da
ordem de 30 votos inibiu a reação dos países ricos que, em revés anterior, em
1999, anularam na prática a posse do candidato tailandês escolhido pela
maioria da organização.
Sugestivamente,
o êxito na OMC representa também um triunfo interno: o dispositivo
midiático conservador torcia pela vitória de quem simbolizava, no
plano internacional, a coalizão de interesses locais que hoje busca
restaurar a lógica dos anos 90 na economia, na política e na diplomacia
brasileira. (Carta
Maior, 8/5/2013)
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