Um raro ato de lucidez
Em 1998, a França baixou uma lei que reduziu a trinta
e cinco horas semanais a jornada de trabalho.
Trabalhar menos, viver mais: Tomás Morus tinha sonhado
isso, em sua Utopia, mas foi preciso
esperar cinco séculos para que enfim uma nação se atrevesse a cometer tamanho
ato de bom-senso.
Afinal de contas, para que servem as máquinas, se não
for para reduzir o tempo de trabalho e ampliar nossos espaços de liberdade? Por
que o progresso tecnológico precisa nos dar desemprego e angústia?
Por uma vez, ao menos, houve um país que se atreveu a
desafiar tanto absurdo. Durou pouco, a lucidez. A lei das trinta e cinco horas
morreu dez anos depois.
(Eduardo Galeano, Os filhos dos dias, L&PM, 2012,
p. 166)
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