domingo, 19 de maio de 2013

Palavra & Polemica: o evento do Pentecostes


Pentecostes e comunicação em línguas parece ser um daqueles binômios unidos essencialmente e para sempre. O evento descrito no livro dos Atos dos Apóstolos (2,1-12) foi pintado em  muitas versões e está gravado na mente de todos/as nós. O desenho, as cores, os personagens e os efeitos parecem definidos e fixados para sempre. Mas será que seu significado e suas implicâncias não estariam pedindo novas leituras? O texto diz que todos os discípulos estavam reunidos no mesmo lugar. Estamos habituados a representar a experiência do pentecostes com o grupo dos doze apóstolos e Maria ao centro. Mas o texto diz que todos estavam reunidos. O que quer dizer esse ‘todos’? Penso que eram os apóstolos e ‘algumas mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus e com os irmãos dele’ (cf. At 1,14). Ou então o grupo de ‘mais ou menos cento e vinte pessoas’ (cf. At 1,15) que havia escolhido o substituto de Judas no grupo dos Doze. Em todos os casos, o dom do Espírito não é exclusividade do ‘colégio apostólico’ e nem mesmo dos discípulos masculinos! O ’todos’ de At 2,1 não se reduz aos Doze Apóstolos. Tem mais gente e tem mulher entre aqueles/as que falam com destemor e criatividade! E qual é a novidade que impressiona o povo reunido em Jerusalém? A surpresa do assembléia multicultural que se reunira para a festa judaica do pentecostes é, como dizem eles, que ‘todos nós os escutamos anunciando as maravilhas de Deus em nossa própria língua’ (cf. At 2,8. 11). O mais impressionante não é que a comunidade cristã fale diversas línguas, mas que todos os povos tenham acesso ao seu anúncio numa linguagem que conseguem entender. É a inculturação do Evangelho de Jesus Cristo! Mas qual é o conteúdo da mensagem que a comunidade cristã anuncia? Diz-se que ela anuncia ‘as maravilhas de Deus’. Quais são essas amravilhas? Que Jesus de Nazaré ‘foi um homem credenciado por Deus’ junto de nós; foi perseguido, humilhado e morto pelas mãos dos homens; foi ressuscitado e exaltado por Deus, enviou seu Espírito para o perdão e a regeneração de todas as pessoas e povos; e constituiu a comunidade cristã como testemunha de tudo isso (cf. At 2,14-41). Em outras palavras: A comunidade cristã anuncia e as pessoas de diversos grupos culturais entendem em sua própria língua que Deus se fez carne e mora no ser humano; age no mundo mediante o amor compassivo que emancipa os dominados; não se identifica com quem manda mas com quem serve; acolhe e perdoa a todos, homens e mulheres, judeus e estrangeiros, escravos ou livres; não veio para julgar e condenar mas para libertar; no seu nome e no seu espírito todos têm acesso à salvação, à plena dignidade. Seremos capazes de tirar as consequências disso? Não se trata simplesmente de traduzir na linguagem das novas mídias velhos dogmas e doutrinas, mas de inculturar e recriar o Evangelho de Jesus Cristo, dialogando com as perguntas dos homens e mulheres de hoje. Não significa defender a hierarquia da Igreja, argumentando que é assistida pelo Espírito Santo, mas afirmar que o Espírito é enviado à comunidade cristã e a toda a criação, e que ele também fala e age mediante as mulheres. O evento do Pentecostes estebelece todos os cristãos como testemunhas de um Deus maravilhoso, que habita no humano e atua na hsitória como servidor e não como senhor, como amigo e não como juiz, como dianmismo renovador e não força conservadora, como boas notícia aos pobres e não como palavra impostora dos poderosos. (Itacir Brassiani msf)

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