Pentecostes e comunicação em línguas parece ser um daqueles binômios unidos essencialmente e para sempre. O
evento descrito no livro dos Atos dos Apóstolos (2,1-12) foi pintado em muitas versões e está gravado na mente de
todos/as nós. O desenho, as cores, os personagens e os efeitos parecem definidos
e fixados para sempre. Mas será que seu significado e suas implicâncias não
estariam pedindo novas leituras? O texto diz que todos os discípulos estavam reunidos
no mesmo lugar. Estamos habituados a representar a experiência do
pentecostes com o grupo dos doze apóstolos e Maria ao centro. Mas o texto diz
que todos estavam reunidos. O que
quer dizer esse ‘todos’? Penso que eram os apóstolos e ‘algumas mulheres, entre
elas Maria, mãe de Jesus e com os irmãos dele’ (cf. At 1,14). Ou então o grupo
de ‘mais ou menos cento e vinte pessoas’ (cf. At 1,15) que havia escolhido o
substituto de Judas no grupo dos Doze. Em todos os casos, o dom do Espírito não
é exclusividade do ‘colégio apostólico’ e nem mesmo dos discípulos masculinos! O
’todos’ de At 2,1 não se reduz aos Doze Apóstolos. Tem mais gente e tem mulher
entre aqueles/as que falam com destemor e criatividade! E qual é a novidade que
impressiona o povo reunido em Jerusalém? A surpresa do assembléia
multicultural que se reunira para a festa judaica do pentecostes é, como dizem
eles, que ‘todos nós os escutamos anunciando as maravilhas de Deus em nossa
própria língua’ (cf. At 2,8. 11). O mais impressionante não é que a comunidade
cristã fale diversas línguas, mas que todos os povos tenham acesso ao seu
anúncio numa linguagem que conseguem entender. É a inculturação do Evangelho de
Jesus Cristo! Mas qual é o conteúdo da mensagem que a comunidade cristã anuncia?
Diz-se que ela anuncia ‘as maravilhas de Deus’. Quais são essas amravilhas? Que
Jesus de Nazaré ‘foi um homem credenciado por Deus’ junto de nós; foi perseguido,
humilhado e morto pelas mãos dos homens; foi ressuscitado e exaltado por Deus,
enviou seu Espírito para o perdão e a regeneração de todas as pessoas e povos;
e constituiu a comunidade cristã como testemunha de tudo isso (cf. At 2,14-41).
Em
outras palavras: A comunidade cristã anuncia e as pessoas de diversos
grupos culturais entendem em sua própria língua que Deus se fez carne e mora no
ser humano; age no mundo mediante o amor compassivo que emancipa os dominados;
não se identifica com quem manda mas com quem serve; acolhe e perdoa a todos,
homens e mulheres, judeus e estrangeiros, escravos ou livres; não veio para
julgar e condenar mas para libertar; no seu nome e no seu espírito todos têm
acesso à salvação, à plena dignidade. Seremos capazes de tirar as consequências
disso? Não se trata simplesmente de traduzir na linguagem das novas mídias
velhos dogmas e doutrinas, mas de inculturar e recriar o Evangelho de Jesus
Cristo, dialogando com as perguntas dos homens e mulheres de hoje. Não
significa defender a hierarquia da Igreja, argumentando que é assistida pelo
Espírito Santo, mas afirmar que o Espírito é enviado à comunidade cristã e a
toda a criação, e que ele também fala e age mediante as mulheres. O evento do
Pentecostes estebelece todos os cristãos como testemunhas de um Deus maravilhoso,
que habita no humano e atua na hsitória como servidor e não como senhor, como
amigo e não como juiz, como dianmismo renovador e não força conservadora, como
boas notícia aos pobres e não como palavra impostora dos poderosos. (Itacir
Brassiani msf)
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