Do
bom discípulo nasce o missionário (1)
Pe. Pablo Hernán Barreiro
msf
Rio de Janeiro
“Ser
discípulos”: esta é a ideia fundamental e o primeiro objetivo da proposta do
Evangelho de Jesus, da tarefa missionária assumida por sua Igreja e da hoje
chamada Nova Evangelização. Trata-se da ação mais urgente e prioritária, a que
fará possível que haja bons missionários para o anuncio do Evangelho nas mais
diversas realidades e desafios do mundo de hoje. Cada cristão deve ser levado
diante de Jesus Cristo para realizar, renovar e aprofundar constantemente um
encontro intenso, pessoal e comunitário com o Senhor. Deste encontro nasce e
renasce o discípulo. E do discípulo nasce o missionário.
Do
discípulo nasce o missionário: não podemos esquecer este axioma. Quem não é
“discípulo” não é nem pode ser missionário. Nos evangelhos vemos como, ao
escolher seus apóstolos, Jesus os escolhe “dentre seus discípulos”: Naqueles dias Jesus foi ao monte para orar e
passou toda a noite em oração com Deus. Quando amanheceu, chamou seus
discípulos e escolheu doze dentre deles, chamando-os também de apóstolos (Lc
6,12-13).
Lamentavelmente,
muitas vezes comete-se o erro de querer “ser missionário sem antes ser
discípulo”. Talvez seja esta uma das razões da atual crise que percebemos dos
membros da Igreja: comunidades onde a ênfase está colocada no que fazemos e não
no que somos, no posto que temos a tantos anos e não na vida discipular que
prima pelo dom acolhido da vida em Cristo e pela configuração vital com os
valores do Evangelho. Poderíamos dizer que ainda hoje, em nossa Igreja existem,
como outrora, comunidades cristãs que “fazem missionários”, mas que, realmente,
não são missionários porque deixam muito a desejar na sua condição de discípulos
de Jesus. E isso acontece com bispos, padres, freiras, catequistas, ministros,
membros das mais diversas pastorais... Trabalham nas coisas do Senhor, mas sem
o Senhor. Por isso, no Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização nossos
pastores nos questionavam: “Devemos nos perguntar sobre a qualidade de nossa
fé, sobre nosso modo de sentir-nos e sermos cristãos, discípulos de Jesus
Cristo convidados a anunciá-lo ao mundo, a sermos testemunhas que, animadas
pelo Espírito Santo, são chamadas a converter aos homens e mulheres de todas as
nações em discípulos e discípulas do Senhor” (cf. n° 2).
Quanto
mal fazemos à causa do Evangelho e às pessoas concretas que estamos chamados a
servir, quando desenvolvemos “funções pastorais sem coração”, isto é, sem sentir como próprio o que transmitimos,
desligados da comunhão com o Senhor e com os irmãos e irmãs, anunciando sem a
experiência e o testemunho de sermos discípulos. Na sua Encíclica Evangelii Nuntiandi, o Papa Paulo VI o
expressava assim: “Hoje mais do que nunca o testemunho de vida tem se
convertido em uma condição essencial da pregação” (EN 76).
A
situação atual dos cristãos em geral e a das lideranças de nossas comunidades
em particular deveria exigir com urgência um sério e profundo processo de
reflexão e discernimento sobre o nível de coerência fé-vida do nosso seguimento
de Cristo, pois “a santidade de vida é um pressuposto fundamental e uma
condição insubstituível para a realização da missão...” (cf. ChFl 17). Nessa
tarefa todos debemos nos involucrar, pastores e leigos!
Quando
Jesus escolheu os apóstolos o fez para
que estivessem com Ele, e para enviá-los em missão (Mc 3,14). Os escolheu para estar com Ele. Não é possível sair
e pregar seu Evangelho sem estar com
Jesus e permanecer com Ele, isto é, “sem ser um com Ele”. Só dessa maneira
podemos ter “espírito missionário” e o afã por levar o Evangelho a todas as
criaturas. Só assim o trabalho missionário será frutífero. O mesmo Jesus disse:
Aquele que permanece em mim e eu nele,
esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15,6). Na
verdade, os fatos comprovam que quem está cheio de Deus comunica e sua presença
transforma e leva aos outros a se encontrarem com Ele: O que vimos e ouvimos, isso no vo-lo anunciamos... (1 Jo 1,3).
Jesus
mandou seus discípulos: Ide por todo o
mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15), e também disse: Ide pelo mundo e fazei discípulos meus entre
as nações... (Mt 28,19). Este é outro aspecto: “ser missionário”, além de
ser fundamentalmente parte do discipulado, também é um dever do discípulo.
Temos que ser missionários porque Jesus chama todos os seus discípulos a
participar de sua missão, a “ser missionários”. Ninguém que seja um bom discípulo
de Jesus pode ficar de braços cruzados. Diz o Papa João Paulo II na Encíclica Redemptoris missio: “Nenhum fiel em
Cristo, nenhuma instituição da Igreja pode iludir este dever supremo: anunciar
a Cristo a todos os povos” (RMi 3).
O
Apóstolo Paulo, exemplo do sentido do mandato evangelizador olhado desde esta
perspectiva do dever, nos deixou seu
testemunho. Ele nos diz: Pregar o
Evangelho não é para mim motivo de glória; é um dever que me implica. E ai de
mim se não pregasse o Evangelho! Se o fizesse por própria iniciativa,
certamente teria direito a recompensa. Mas se o faço forçado, é uma missão que
me foi confiada. Pois bem, qual é a minha recompensa? Pregar o Evangelho
entregando-o gratuitamente” (1 Cor 9,16-18). Que belo, profundo e
encantador testemunho! O Apóstolo Paulo é consciente de que não prega apenas por
dever ou por decisão pessoal, como se fosse uma coisa própria à que tem
direito, mas como uma iniciativa que vem do Senhor, que é quem o envia. Por
isso, não pode presumir nem gloriar-se no que faz... Talvez isto também
devêssemos aprender nós, que tantas vezes procuramos pequenos e grandes
benefícios, cargos e prestígios pelo só fato de irmos à igreja, termos ajudado
à comunidade ou estarmos nela a tantos anos! Quando o Apóstolo Paulo diz, ai de mim se não pregar o Evangelho!,
quando diz que prega “forçado”, ele não o compreende como quem está sob
pressão, por uma imposição exterior, mas sim na mesma linha do profeta
Jeremias: Seduziste-me, Senhor, e eu me
deixei seduzir; me agarras-te e tens podido comigo” (Jer 20,7). Oxalá assim
o compreendamos nós!!!
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