“Meu Deus, por que me abandonastes?”
Ele surgiu no meio
dos seus – de nós – quando andávamos desgarrados como ovelhas, seguindo cada
qual o seu caminho. Como passou fazendo o bem, decidimos segui-Lo. Como deu pão
aos famintos e curou os doentes, quisemos fazê-lo Rei. De fato, nós O
acompanhamos alegremente e planejamos estender no chão os nossos mantos e
saudá-Lo com ramos de oliveira quando entrasse triunfante em Jerusalém.
Mas fomos colhidos
por uma estranha tempestade, justamente quando cruzávamos o deserto, na
travessia de quarenta dias que nos levaria ao Seu encontro. A tempestade era
invisível, derrubava os mais fracos e atingia a todos sem distinção, embora
alguns conseguissem levantar e seguir adiante. Movidos pelo Seu exemplo que
tinham gravado no coração, muitos ajudavam os que caíam, embora não
conseguissem salvar a todos. Com o coração traspassado, depois de enterrar
nossos mortos e avançar a duras penas, chegamos a Jerusalém. Mas Ele não estava
lá!
Disseram-nos que ele
tinha tomado sobre si as enfermidades e os pecados do mundo e, por isso, tinha
sido reputado como um castigado, ferido por Deus e humilhado. A tal ponto que o
castigo que nos salvou pesou sobre Ele e suas chagas nos curaram. E morrera
gritando: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Sl 22).
Desanimados,
começamos a retornar sobre nossos passos. E enquanto caminhávamos de volta,
tremia a terra e seus algozes tomavam consciência de que haviam assassinado o
Filho de Deus. Acrescentou-se, então, à tristeza que sentíamos ao contar os
nossos mortos, a dor de ter perdido Aquele em quem confiávamos.
Nossa tristeza era
tanta que nem notamos que na escuridão do caminho surgiu uma grande luz.
Percebemos então que estávamos lá, todos os que O amávamos, bem defronte a uma
pedra que tinha fechado um sepulcro que já estava vazio. A luz O envolvia e ele
nos dizia: “Ressuscitei e estou convosco”. Começamos a sorrir entre lágrimas e
conseguimos, sim, ter uma Feliz Páscoa da Ressurreição.
Maria Elisa Zanelatto
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