quinta-feira, 23 de abril de 2020

O Evangelho dominical (Pagola) - 26.04.2020


DUAS EXPERIÊNCIAS-CHAVE

Ao longo dos anos, nas comunidades cristãs, foi-se colocando espontaneamente um problema muito real. Pedro, Maria Madalena e os restantes discípulos tinham vivido experiências muito especiais de encontro com Jesus vivo após a Sua morte. Experiências que os levaram a crer em Jesus ressuscitado. Mas os que se aproximaram mais tarde do grupo de seguidores, como podiam alimentar essa mesma fé?
Este é também hoje o nosso problema. Nós não vivemos o encontro com o Ressuscitado que viveram os primeiros discípulos. Com que experiências podemos nós conta-la? Isso é o que suscita o relato dos discípulos de Emaús.
Os dois caminham para suas casas, tristes e desolados. A sua fé em Jesus apagara-se. Já não esperavam nada Dele. Tudo fora uma ilusão. Jesus, que os segue sem se fazer notar, alcança-os e caminha com eles. Lucas expõe assim a situação: «Jesus começou a caminhar com eles, mas os seus olhos não eram capazes de O reconhecer». O que podem fazer para experimentar a Sua presença viva junto deles?
O importante é que estes discípulos não esquecem Jesus; conversam e discutem sobre Ele; recordam as Suas palavras e os Seus atos de grande profeta; deixam que aquele desconhecido lhes vá explicando o que aconteceu. Os seus olhos não se abrem imediatamente, mas os seus corações começam a arder.
É a primeira coisa que necessitamos nas nossas comunidades: recordar Jesus, aprofundar a Sua mensagem e na Sua atuação, meditar na Sua crucificação. Se, em algum momento, Jesus nos comove, as suas palavras nos alcançam por dentro e o nosso coração começa a arder, é sinal de que a nossa fé está despertando.
Mas isso não é suficiente. Segundo Lucas, é necessária a experiência da ceia eucarística. Embora ainda não saibam quem é, os dois caminhantes sentem necessidade de Jesus. Faz-lhes bem a Sua companhia. Não querem que os deixe. «Fica conosco». Lucas enfatiza com alegria: «Jesus veio para ficar com eles». No jantar, eles abrem os olhos.
Estas são as duas experiências-chave: sentir que o nosso coração arde ao recordar a Sua mensagem, a Sua atuação e toda a Sua vida; sentir que, ao celebrar a Eucaristia, a Sua pessoa nos alimenta, nos fortalece e nos conforta. Assim, cresce na igreja a fé no ressuscitado.
José Antônio Pagola
Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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