NÃO DESÇAS DA CRUZ!
Segundo o relato evangélico, os que passavam diante de Jesus crucificado zombavam Dele e, rindo-se do Seu sofrimento, faziam-lhe duas sugestões sarcásticas: Se és o Filho de Deus, «salva-te a ti mesmo» e «desce da cruz».
Essa é
exatamente a nossa reação perante o sofrimento: salvar-nos a nós mesmos, pensar
apenas no nosso bem-estar e, portanto, evitar a cruz, passarmos a vida evitando
tudo o que nos pode fazer sofrer. Será também Deus como nós, alguém que só
pensa em si mesmo e na sua felicidade?
Jesus não responde à provocação daqueles que
zombam dele. Não pronuncia qualquer palavra. Não é o momento de dar
explicações. A Sua resposta é o silêncio. Um silêncio que é respeito por quem o
despreza e, acima de tudo, compaixão e amor.
Jesus
quebra o seu silêncio somente para dirigir-se a Deus com um grito desesperado:
«Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?» Não pede que o salve descendo-o da cruz, mas que não se oculte nem o
abandone neste momento de morte e sofrimento extremo. E Deus, Seu Pai,
permanece em silêncio.
Somente ouvindo a profundidade deste silêncio
de Deus, descobrimos algo de Seu mistério. Deus não é um ser poderoso e
triunfante, calmo e feliz, alheio ao sofrimento humano, mas um Deus calado,
indefeso e humilhado, que sofre conosco a dor, a escuridão e até a própria
morte.
Por
isso, ao contemplar o Crucificado, a nossa reação não pode ser de zombaria ou
desprezo, mas de oração confiante e agradecida: «Não desças da cruz. Não nos
deixes sozinhos na nossa aflição. De que nos serviria um Deus que não
conhecesse o nosso sofrimento? Quem nos poderia entender?»
A quem
poderiam esperar, os torturados de tantas prisões secretas? Onde poderiam
colocar a sua esperança, tantas mulheres humilhadas e violentadas sem qualquer
defesa? A que se agarrariam tantos doentes crônicos e os moribundos? Quem
poderia oferecer conforto às vítimas de tantas guerras, terrorismo, fome,
pandemias e miséria? Não. Não desças da
cruz, pois se não te sentirmos crucificado junto de nós, ficaremos ainda mais
perdidos.
José Antônio Pagola.
(Tradução de Antônio
Manuel Álvarez Perez)
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