quinta-feira, 2 de abril de 2020

O evangelho dominical (Pagola) - 05.04.2020


NÃO DESÇAS DA CRUZ!

Segundo o relato evangélico, os que passavam diante de Jesus crucificado zombavam Dele e, rindo-se do Seu sofrimento, faziam-lhe duas sugestões sarcásticas: Se és o Filho de Deus, «salva-te a ti mesmo» e «desce da cruz».

Essa é exatamente a nossa reação perante o sofrimento: salvar-nos a nós mesmos, pensar apenas no nosso bem-estar e, portanto, evitar a cruz, passarmos a vida evitando tudo o que nos pode fazer sofrer. Será também Deus como nós, alguém que só pensa em si mesmo e na sua felicidade?

Jesus não responde à provocação daqueles que zombam dele. Não pronuncia qualquer palavra. Não é o momento de dar explicações. A Sua resposta é o silêncio. Um silêncio que é respeito por quem o despreza e, acima de tudo, compaixão e amor.

Jesus quebra o seu silêncio somente para dirigir-se a Deus com um grito desesperado: «Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?» Não pede que o salve descendo-o da cruz, mas que não se oculte nem o abandone neste momento de morte e sofrimento extremo. E Deus, Seu Pai, permanece em silêncio.

Somente ouvindo a profundidade deste silêncio de Deus, descobrimos algo de Seu mistério. Deus não é um ser poderoso e triunfante, calmo e feliz, alheio ao sofrimento humano, mas um Deus calado, indefeso e humilhado, que sofre conosco a dor, a escuridão e até a própria morte.

Por isso, ao contemplar o Crucificado, a nossa reação não pode ser de zombaria ou desprezo, mas de oração confiante e agradecida: «Não desças da cruz. Não nos deixes sozinhos na nossa aflição. De que nos serviria um Deus que não conhecesse o nosso sofrimento? Quem nos poderia entender?»

A quem poderiam esperar, os torturados de tantas prisões secretas? Onde poderiam colocar a sua esperança, tantas mulheres humilhadas e violentadas sem qualquer defesa? A que se agarrariam tantos doentes crônicos e os moribundos? Quem poderia oferecer conforto às vítimas de tantas guerras, terrorismo, fome, pandemias e miséria? Não. Não desças da cruz, pois se não te sentirmos crucificado junto de nós, ficaremos ainda mais perdidos.

José Antônio Pagola.
(Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez)

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