segunda-feira, 6 de abril de 2020

ANO A | SEMANA SANTA | CEIA DO SENHOR | 09.04.2020


Jesus compartilha sua vida intensamente dedicada e cuidadora!
Na ceia eucarística celebramos a Aliança nova e eterna de Deus conosco. O próprio Jesus nos diz que desejou ardentemente celebrar esta ceia conosco. Na mesa da eucaristia intuímos que nossa glória consiste em trazer em nossos sonhos, projetos e ações as marcas de um amor sem fronteiras. Neste dia, mesmo separados dos irmãos que amamos, “recordamos e celebramos a oferta de uma vida que foi totalmente doada, dedicada, compartilhada, cuidadora” (Texto-Base da Campanha da Fraternidade, § 167).
A eucaristia é a memória de Jesus e dos discípulos e discípulas que, tendo atrás as inesquecíveis experiências das refeições partilhadas com toda sorte gente excluída e à frente a ameaça dos poderes que não toleram mudanças, compartilham suor e sangue, vinho e pão, sonhos e esperanças. Celebramos esta ceia e aceitamos a aliança que Deus nos oferece ainda ‘na terra do Egito’, num tempo em que nada temos a temer senão a fuga da luta. A eucaristia é alimento para quem está a caminho, ou mesmo para quem está em isolamento.
No centro desta Ceia não está um simples cordeiro, mas um corpo feito inteiramente dom. No pão-corpo, Jesus Cristo oferece sua vida e sua utopia. É sua vida inteira que ele nos oferece sem reservas e sem impor condições. E o faz numa ceia ordinária, numa refeição marcada pelo afeto fraterno, num contexto de ameaça de morte, como esse que o mundo vive diante de um vírus que tem forma de coroa, pedindo insistentemente que façamos o mesmo que ele fez, para manter viva sua memória. “Fazei isso em memória de mim!”
O corpo de Cristo não é apenas o pão. É também a comunidade viva dos fiéis, o povo de Deus que ultrapassa as fronteiras eclesiásticas, o corpo dos pobres e marginalizados que padecem suas chagas vivas, o corpo dos idosos, e não só, duramente golpeados pela pandemia que nos assusta. Por isso, participar da ceia de Jesus leva ao compromisso de encarnar a atitude de amor, de cuidado e de acolhida de Jesus, sem esquecer o protesto profético contra as injustiças e a atitude clara que passa do ver à compaixão e ao cuidado.
Jesus simboliza a oferta sem reservas de si mesmo no gesto de lavar os pés dos discípulos. A sua bacia não é a mesma de Pilatos, na qual ele faz finta de lavar as mãos irremediavelmente sujas de indiferença e omissão frente a injustiça e a violência. No gesto de Jesus, sinal de cuidado e serviço, é o próprio Deus que se inclina diante da humanidade e, de joelhos, lava nossos pés. E não o faz simplesmente para demonstrar humildade, mas para contestar as hierarquias e afirmar a absoluta igualdade de todos os filhos e filhas de Deus.
Pedro reage diante desta lição de Jesus. Não lhe parece bem mudar as coisas de forma tão radical. Para ele, senhores e superiores devem ser honrados, servos e inferiores devem ser desfrutados. Esta seria a ordem e nada deveria ser mudado. Parece-lhe difícil aceitar que a Eucaristia exige que façamo-nos memória viva de Jesus Servo e Cuidador. E isso custa também a cada de nós, e muito. Mas Jesus não encena uma peça: ele é verdadeiramente Servo, e a missão que compartilha conosco é o serviço aos irmãos!
A lição é difícil e nada óbvia. É por isso que, depois de cear e de lavar os pés dos discípulos, Jesus nos interroga: “Compreendeis o que acabo de fazer?” E ele mesmo explica: “Vós me chamais de mestre e senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” Deus coloca tudo nas mãos de Jesus, e este ‘tudo’ se mostra nas mãos que lavam os pés, no serviço cordial e fraterno. Eis a lição eucarística do Mestre-Servo.
A ordem de Jesus é que passemos da memória verbal, visual e ritual da Eucaristia à sua realização histórica e vivencial: “Fazei isso em memória de mim... Se puserdes em prática, sereis felizes.” Precisamos dar conteúdo e concretude existencial e social à Eucaristia no dom e no cuidado cotidiano dos outros, no serviço despojado a todas as pessoas, mesmo àquelas que aparentemente não o merecem. O Evangelho define como critério de ação a necessidade concreta das pessoas, e não o merecimento. Que missão seria essa de ficar na superfície, entre os conhecidos, servindo e cuidando apenas daqueles que nos são próximos?
Deus Pai e Mãe: teu Filho nos ensinou que na tua mesa há lugar para todos e não falta alimento, porque tudo é partilhado. Hoje, mais uma vez, estamos testemunhando que isso é verdade. Te agradecemos porque nesta mesa de irmãos e irmãs aprendemos até onde teu amor nos leva. Bendito sejas pelo dom do teu Filho na Palavra, no Pão e no Vinho e, principalmente, nas pessoas que continuam sua missão de consolar e cuidar. Ajuda-nos a fazer o que ele fez, a amar como ele amou, a servir como ele serviu. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
Livro do êxodo 12,1-14 | Salmo 115 (116)
Carta de Paulo aos Coríntios 11,23-26| Evangelho de São João 13,1-15

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