Jesus compartilha sua
vida intensamente dedicada e cuidadora!
Na ceia eucarística
celebramos a Aliança nova e eterna de Deus conosco. O próprio Jesus nos diz que
desejou ardentemente celebrar esta ceia conosco. Na mesa da eucaristia intuímos
que nossa glória consiste em trazer em nossos sonhos, projetos e ações as
marcas de um amor sem fronteiras. Neste dia, mesmo separados dos irmãos que amamos,
“recordamos e celebramos a oferta de uma vida que foi totalmente doada,
dedicada, compartilhada, cuidadora” (Texto-Base
da Campanha da Fraternidade, § 167).
A eucaristia é a
memória de Jesus e dos discípulos e discípulas que, tendo atrás as inesquecíveis
experiências das refeições partilhadas com toda sorte gente excluída e à frente
a ameaça dos poderes que não toleram mudanças, compartilham suor e sangue,
vinho e pão, sonhos e esperanças. Celebramos esta ceia e aceitamos a aliança
que Deus nos oferece ainda ‘na terra do Egito’, num tempo em que nada temos a
temer senão a fuga da luta. A eucaristia é alimento para quem está a caminho,
ou mesmo para quem está em isolamento.
No centro desta Ceia
não está um simples cordeiro, mas um corpo feito inteiramente dom. No
pão-corpo, Jesus Cristo oferece sua vida e sua utopia. É sua vida inteira que
ele nos oferece sem reservas e sem impor condições. E o faz numa ceia
ordinária, numa refeição marcada pelo afeto fraterno, num contexto de ameaça de
morte, como esse que o mundo vive diante de um vírus que tem forma de coroa, pedindo
insistentemente que façamos o mesmo que ele fez, para manter viva sua memória.
“Fazei isso em memória de mim!”
O corpo de Cristo não
é apenas o pão. É também a comunidade viva dos fiéis, o povo de Deus que
ultrapassa as fronteiras eclesiásticas, o corpo dos pobres e marginalizados que
padecem suas chagas vivas, o corpo dos idosos, e não só, duramente golpeados
pela pandemia que nos assusta. Por isso, participar da ceia de Jesus leva ao compromisso
de encarnar a atitude de amor, de cuidado e de acolhida de Jesus, sem esquecer
o protesto profético contra as injustiças e a atitude clara que passa do ver à
compaixão e ao cuidado.
Jesus simboliza a
oferta sem reservas de si mesmo no gesto de lavar os pés dos discípulos. A sua bacia
não é a mesma de Pilatos, na qual ele faz finta de lavar as mãos
irremediavelmente sujas de indiferença e omissão frente a injustiça e a
violência. No gesto de Jesus, sinal de cuidado e serviço, é o próprio Deus que se
inclina diante da humanidade e, de joelhos, lava nossos pés. E não o faz
simplesmente para demonstrar humildade, mas para contestar as hierarquias e
afirmar a absoluta igualdade de todos os filhos e filhas de Deus.
Pedro reage diante
desta lição de Jesus. Não lhe parece bem mudar as coisas de forma tão radical.
Para ele, senhores e superiores devem ser honrados, servos e inferiores devem
ser desfrutados. Esta seria a ordem e nada deveria ser mudado. Parece-lhe
difícil aceitar que a Eucaristia exige que façamo-nos memória viva de Jesus
Servo e Cuidador. E isso custa também a cada de nós, e muito. Mas Jesus não
encena uma peça: ele é verdadeiramente Servo, e a missão que compartilha
conosco é o serviço aos irmãos!
A lição é difícil e
nada óbvia. É por isso que, depois de cear e de lavar os pés dos discípulos,
Jesus nos interroga: “Compreendeis o que acabo de fazer?” E ele mesmo explica:
“Vós me chamais de mestre e senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se
eu, o Senhor e mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos
outros.” Deus coloca tudo nas mãos de Jesus, e este ‘tudo’ se mostra nas mãos
que lavam os pés, no serviço cordial e fraterno. Eis a lição eucarística do
Mestre-Servo.
A ordem de Jesus é que
passemos da memória verbal, visual e ritual da Eucaristia à sua realização
histórica e vivencial: “Fazei isso em memória de mim... Se puserdes em prática,
sereis felizes.” Precisamos dar conteúdo e concretude existencial e social à
Eucaristia no dom e no cuidado cotidiano dos outros, no serviço despojado a
todas as pessoas, mesmo àquelas que aparentemente não o merecem. O Evangelho
define como critério de ação a necessidade concreta das pessoas, e não o merecimento.
Que missão seria essa de ficar na superfície, entre os conhecidos, servindo e
cuidando apenas daqueles que nos são próximos?
Deus Pai e Mãe: teu Filho nos ensinou que na tua mesa
há lugar para todos e não falta alimento, porque tudo é partilhado. Hoje, mais
uma vez, estamos testemunhando que isso é verdade. Te agradecemos porque nesta
mesa de irmãos e irmãs aprendemos até onde teu amor nos leva. Bendito sejas
pelo dom do teu Filho na Palavra, no Pão e no Vinho e, principalmente, nas
pessoas que continuam sua missão de consolar e cuidar. Ajuda-nos a fazer o que
ele fez, a amar como ele amou, a servir como ele serviu. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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