Viver com as mãos limpas, unidas e estendidas para servir!
Ninguém de nós viu
Jesus, mas isso não nos impede de segui-lo, amá-lo e testemunhá-lo. Aprendemos
pouco a pouco que a fé nos faz renascer para uma esperança viva e nos ajuda a
ver com novo olhar e agir com novo vigor. Ver e tocar não são condições
indispensáveis para crer; imprescindível é o vínculo vivo com uma comunidade de
irmãos e irmãs. É na comunhão com homens e mulheres concretos que podemos tocar
as chagas de Jesus ressuscitado, prostrarmo-nos em humilde adoração e
prosseguir sua missão.
Como não se
impressionar com a experiência pascal dos discípulos de Jesus? Doía-lhes na
consciência a traição, a negação, a deserção e o abandono de Jesus no caminho
da cruz. A esta dor acrescentava-se o medo de que a perseguição das autoridades
se voltasse também contra eles. Com medo, se reuniam nas casas, a portas
fechadas. Mas, ao se manifestar a eles, a primeira palavra de Jesus é de
acolhida e pacificação, e não de cobrança. Jesus lhes mostra as feridas sem
lamentar ou acusar por terem-no abandonado.
Neste mesmo encontro,
Jesus confia aos discípulos uma missão muito clara: continuar sua própria
missão de tirar o pecado do mundo. “Assim como o Pai me enviou, eu também envio
vocês”. É como se ele nos confiasse a tarefa passar pelas ruas recolhendo os
males que o egoísmo gera e multiplica. Este pecado tem muitos nomes, e se
manifesta nas diversas formas de dominação, de exploração, de discriminação, e
também na indiferença diante das vítimas destas ações. Isso é o que significa
ser o “Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo”. É a isso que, na
sua carta, Pedro identifica como herança que não se corrompe!
Tomé não está reunido
com os demais discípulos quando Jesus vai ao encontro deles. Os outros dez discípulos
lhe anunciam que viram o Senhor, mas sua reação não esconde a frustração
transformada em ceticismo: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos dele, se
eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão
no lado dele, eu não acreditarei”. Falta-lhe o sentido de pertença à
comunidade. O abandono do caminho de Jesus leva-o ao isolamento e impede a
continuidade da missão.
Tomé reata os laços
com os condiscípulos e, assim, seus olhos se abrem. Nos corpos concretos e
feridos dos irmãos e irmãs, Tomé recorda o projeto de Jesus Cristo, toca suas
feridas e acredita nele. São felizes aqueles que acreditam sem terem visto,
apenas vendo e tocando indiretamente o Senhor que está no meio de nós. Às vezes
podemos ficar de tal modo envolvidos pela ideia de um Cristo exaltado e pela
expectativa da ressurreição depois da morte que podemos esquecer que o mundo
ainda não foi totalmente transfigurado.
É a nós que Jesus se
dirige hoje, convidando-nos a tocar seu corpo. Seu corpo está ao nosso alcance
na eucaristia, mas também no corpo eclesial, nos irmãos e irmãs que estão ao
nosso lado no templo e do lado de fora da Igreja, e que hoje estamos impedidos
de tocar. Acolhamos e sirvamos estes irmãos e irmãs, membros vivos do corpo de
Cristo. Vivamos em paz com eles, e sejamos portadores de paz. Busquemos no pão
pascal a força para perseverar na missão de tirar o pecado do mundo, começando pelo
pecado de dizer que o vírus é uma vingança de Deus e de desobedecer
criminosamente o isolamento social.
Esta exigente missão é
assumida com grande alegria pelos discípulos reconciliados. Eles procuraram
viver unidos e tentaram colocar os bens em comum, repartindo-os conforme a
necessidade de cada um. Buscavam no templo a iluminação e o dinamismo para, em
suas casas, viver com simplicidade e repartir o pão com alegria. O imperativo
do afastamento social e de lavar as mãos não nos impede de estendê-las aos
irmãos!
Esta missão urge, não
pode ser postergada para amanhã, para quando tivermos mais tempo, para depois
da pandemia. Não pode também ser terceirizada ou remetida à responsabilidade
dos outros. A comunidade que se reúne para celebrar a memória de Jesus
crucificado e ressuscitado, recebe o Espírito Santo para ousar e inovar, para
viver como uma Igreja em saída, que se volta intrépida e solidária às
periferias, que se renova a si mesma, que não se contenta em celebrar o
testemunho dos santos do passado ou em celebrar on line.
Deus, Pai e Mãe da vida: celebrando a memória de teu
filho e nosso irmão Jesus de Nazaré, te agradecemos pelo dom da fé. É graças à
fé que e caminhamos, mesmo sem ter visto o Senhor. Pedimos-te que este tempo
nos faça renascer para uma esperança viva e vivificadora, para uma herança que
não murcha. Faz com que sejamos membros da família de Jesus Cristo a partícipes
da sua missão de tirar o pecado do mundo, de testemunhar o Evangelho da alegria
e do serviço e fazer da humanidade uma só família. Assim seja! Amém!
Itacir Brassiani msf
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