COMPANHEIRO
DE CAMINHO
Há muitas maneiras de colocar obstáculos à verdadeira fé. Há a atitude do «fanático», que se agarra a
um conjunto de crenças sem nunca se deixar interrogar por Deus, e sem jamais
ouvir ninguém que possa questionar a sua posição. A sua, é uma fé fechada,
onde falta acolhida e escuta do Mistério, e onde sobra arrogância. Esta fé não
liberta da rigidez mental, nem ajuda a crescer, pois não se alimenta do
verdadeiro Deus.
Há também a posição do «cético»,
que não procura nem se interroga, pois já não espera nada de Deus, nem da vida,
nem de si mesmo. A sua é uma fé triste e apagada. Falta nela o dinamismo da
confiança. Não vale a pena. Tudo se resume em continuar a viver, sem mais.
Há também a posição do
«indiferente», que já não se interessa nem pelo sentido da vida nem pelo
mistério da morte. A sua vida é pragmatismo. Só lhe interessa o que lhe
pode proporcionar segurança, dinheiro ou bem-estar. Para ele, Deus significa
cada vez menos. Na verdade, que utilidade prática tem acreditar Nele?
Há também quem se sinta
«proprietário da fé», como se esta consistisse num «capital» recebido no
batismo, e que está aí, não se sabe muito bem onde, sem que se tenha que
preocupar muito com ela. Esta fé não é fonte de vida, mas «herança» ou
«costume» recebido de outros. Pode-se livrar dela sem sentir a sua falta.
Há também a «fé infantil»
daqueles que não acreditam em Deus, mas sim naqueles que falam Dele. Nunca
tiveram a experiência de dialogar sinceramente com Deus, de procurar o Seu
rosto, ou de se abandonar no Seu mistério. Basta-lhes acreditar na hierarquia
ou confiar «nos que sabem dessas coisas». A sua fé não é experiência pessoal.
Falam de Deus «por ouvir dizer».
Em todas estas atitudes falta o
mais essencial da fé cristã: o encontro pessoal com Cristo, a experiência de caminhar pela vida
acompanhados por alguém vivo com quem podemos contar e a quem nos podemos
confiar. Só Ele nos pode fazer viver, amar e esperar apesar dos nossos
erros, fracassos e pecados.
Segundo o relato evangelho, os discípulos de Emaús contavam «o que lhes
tinha acontecido no caminho». Caminhavam tristes e desesperançados, mas algo
novo se despertou neles ao encontrar-se com um Cristo próximo e cheio de vida. A verdadeira fé sempre nasce do encontro
pessoal com Jesus como «companheiro de caminho».
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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