quinta-feira, 15 de abril de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 18.04.2021

COMPANHEIRO DE CAMINHO

Há muitas maneiras de colocar obstáculos à verdadeira fé. Há a atitude do «fanático», que se agarra a um conjunto de crenças sem nunca se deixar interrogar por Deus, e sem jamais ouvir ninguém que possa questionar a sua posição. A sua, é uma fé fechada, onde falta acolhida e escuta do Mistério, e onde sobra arrogância. Esta fé não liberta da rigidez mental, nem ajuda a crescer, pois não se alimenta do verdadeiro Deus.

Há também a posição do «cético», que não procura nem se interroga, pois já não espera nada de Deus, nem da vida, nem de si mesmo. A sua é uma fé triste e apagada. Falta nela o dinamismo da confiança. Não vale a pena. Tudo se resume em continuar a viver, sem mais.

Há também a posição do «indiferente», que já não se interessa nem pelo sentido da vida nem pelo mistério da morte. A sua vida é pragmatismo. Só lhe interessa o que lhe pode proporcionar segurança, dinheiro ou bem-estar. Para ele, Deus significa cada vez menos. Na verdade, que utilidade prática tem acreditar Nele?

Há também quem se sinta «proprietário da fé», como se esta consistisse num «capital» recebido no batismo, e que está aí, não se sabe muito bem onde, sem que se tenha que preocupar muito com ela. Esta fé não é fonte de vida, mas «herança» ou «costume» recebido de outros. Pode-se livrar dela sem sentir a sua falta.

Há também a «fé infantil» daqueles que não acreditam em Deus, mas sim naqueles que falam Dele. Nunca tiveram a experiência de dialogar sinceramente com Deus, de procurar o Seu rosto, ou de se abandonar no Seu mistério. Basta-lhes acreditar na hierarquia ou confiar «nos que sabem dessas coisas». A sua fé não é experiência pessoal. Falam de Deus «por ouvir dizer».

Em todas estas atitudes falta o mais essencial da fé cristã: o encontro pessoal com Cristo, a experiência de caminhar pela vida acompanhados por alguém vivo com quem podemos contar e a quem nos podemos confiar. Só Ele nos pode fazer viver, amar e esperar apesar dos nossos erros, fracassos e pecados.

Segundo o relato evangelho, os discípulos de Emaús contavam «o que lhes tinha acontecido no caminho». Caminhavam tristes e desesperançados, mas algo novo se despertou neles ao encontrar-se com um Cristo próximo e cheio de vida. A verdadeira fé sempre nasce do encontro pessoal com Jesus como «companheiro de caminho».

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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