quarta-feira, 28 de abril de 2021

ANO B | TEMPO PASCAL | QUINTO DOMINGO | 02.05.2021

A união com Jesus nos insere na sua missão libertadora!

A liturgia do quinto domingo da páscoa é iluminada pela bela alegoria da videira e dos ramos. Lembremos o contexto literário desta metáfora: ela dá continuidade à catequese que Jesus desenvolve depois da última ceia e do lava-pés, ao diálogo pedagógico no qual ele, como Mestre, passa e repassa com intensidade e cordialidade aspectos centrais do seu ensino e do testamento que entrega aos seus Discípulos. O ambiente está menos para poesia e mais para testamento, para a comunicação da sua vontade última e mais profunda.

Jesus começa apresentando a si mesmo como a verdadeira videira. Portanto, ele não apenas retoma a tradicional metáfora da videira e a aplica a si mesmo, mas se contrapõe e toma o lugar de uma outra videira potencialmente falsa. Qual é a videira não-verdadeira, aquela que é ultrapassada por Jesus? É Israel, no seu sentido de unidade política e religiosa. Através do profeta Jeremias Deus diz, dirigindo-se a Israel: “Eu havia plantado você como lavoura especial, com mudas legítimas. E como é que você se transformou em ramos degenerados de vinha sem qualidade?” (Jr 2,21; cf.  Is 5,1-7; cf. Ez 19,10-12)

Um segundo aspecto que Jesus sublinha é sua relação com os discípulos. Essa relação é ilustrada pelo vínculo entre a cepa e os ramos da videira. Trata-se de uma relação de recíproca dependência: a cepa só pode frutificar através dos ramos, e os ramos, por sua vez, só produzem frutos se permanecem ligados à cepa. “Fiquem unidos a mim e eu ficarei unido a vocês... Porque sem mim vocês não podem fazer nada”. Da mesma maneira que a videira necessita dos ramos para produzir uva, Jesus necessita das ações dos/as discípulos/as para amar e servir.

Por outro lado, como os ramos nada produzem sem a seiva que lhes vem gratuitamente da cepa, assim também os/as discípulos de Jesus pouco conseguem fazer de bom e duradouro se não permanecerem profunda e radicalmente ligados/as a Jesus Cristo. E esta união não se dá apenas no nível dos sentimentos ou dos pensamentos, mas da atitude de fundo e da ação, na identificação com seu dinamismo de encarnação e com o dom total na cruz. É na força dessa união que serão sinais de ressurreição, promotores da Justiça e defensores da democracia, livres do engodo das falsas lutas contra a corrupção. Sem isso serão como ramos estéreis. É nossa pertença ao seu povo que nos dá segurança e vida, e não a solução suicida da livre aquisição de armas.

Um terceiro aspecto ressaltado pela alegoria da videira é o seguinte: para que produza frutos bons e abundantes, esse vínculo dos discípulos com Jesus Cristo, como a inserção do ramo na cepa, não é um dado estático, automático ou tranquilo, mas um processo ativo e vivo que conhece exigências e requer decisões, um dinamismo de permanente limpeza e poda. Não podemos esquecer que a páscoa, antes de ser uma vitória olímpica sobre a morte, é o dom livre e exigente de si mesmo e a descida aos escuros corredores da morte. “Os ramos que dão fruto, o Pai os poda para que deem mais frutos ainda”, diz Jesus.

E é bom lembrar que, na cultura da uva, a prática da poda tem como objetivo eliminar os fatores de debilitação e de morte e, ao mesmo tempo, direcionar as energias para os frutos. E há também o corte dolorido e violento para enxertar o ramo numa cepa comprovadamente boa. Para o/a discípulo/a, o seguimento dos passos de Jesus Cristo na ceia, no lava-pés e na cruz que leva à ressurreição é um caminho de progressiva inserção numa comunidade de irmãos e irmãs e de conversão do ‘eu’ ‘nós’. E sempre sem perder de vista que o objetivo dessa espécie de poda é a frutificação mais generosa e abundante.

Embora já saibamos, é bom recordar também que ficar unido a Jesus Cristo ou permanecer nele não significa simplesmente frequentar o culto ou a missa assiduamente. Quando Jesus pede ‘fiquem unidos a mim’, está insistindo que mantenhamos e aprofundemos nossa adesão ao caminho que ele propôs e percorreu: aceitar a vulnerabilidade para fazer-se próximo, não perder a vida correndo atrás de ambições vazias, mas entregá-la livremente para que todos vivam melhor, para conduzir o rebanho para fora do curral. Jesus já havia dito: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu permaneço nele” (Jo 6,56).

Jesus de Nazaré, videira verdadeira: sem a seiva da tua Palavra morremos de anemia. Sem a força que vem de ti, produzimos apenas frutos poucos e amargos. Por isso, dá-nos teu Espírito, e sustenta-nos no amor fraterno e solidário aos nossos irmãos e irmãs. Recria tua Igreja na comunhão de carismas e ministérios. Alimenta-nos com a tua santa Seiva e suscita apóstolos/as destemidos/as, como aqueles/as da primeira hora. Sustenta-nos unidos/as a ti e, ao mesmo tempo, criativos/as e perseverantes na missão. É isso que te pedimos hoje, desejosos/as de que tua Palavra permaneça em nós e nós permaneçamos no teu amor. Amém! Assim seja!

Itacir Brassiani msf

Atos dos Apóstolos 9,26-31 | Salmo 21 (22) | Primeira Carta de João 2,4-3,18-24 | Evangelho segundo João 15,1-8

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