“Comungar é
tornar-se um perigo, e viemos para incomodar...” | 512 | 24.10.2024 | Lucas 12,49-53
No trecho do evangelho de ontem, fomos advertidos
por Jesus para que não aconteça que, mesmo conhecendo a vontade de Deus,
vivamos “na sombra e água fresca”, não preparemos nada e nos comportemos como
chefes violentos e sem compromisso, prontos a beber, dominar com violência e
discriminar. O foco do trecho de hoje é outro, mas a tensão para a construção
do Reino de Deus e o tom de urgência continuam. Esperamos o Reino de Deus
articulando a paz com a justiça.
A
imagem à qual Jesus recorre, assim como sua primeira afirmação, assustam,
especialmente quem quer reduzir a proposta de Jesus a um inocente “paz e amor”.
Ele diz claramente que não vem trazer paz, e sim divisão; que não vem apagar os
incêndios da ira, mas espalhar o fogo. E mais ainda: ele espera que seus
discípulos e discípulas façam o mesmo! Como entender corretamente estas
palavras de Jesus? Elas fazem sentido? Os anjos não cantaram “paz na terra”
quando ele nasceu? Ele não é o príncipe da paz, sonhado pelo profeta Isaías?
Na
perspectiva de Jesus, a paz que todos desejamos é fruto do abraço com a
justiça, resultado de uma escolha difícil e exigente que precisamos refazer
todos os dias. Não há paz que mereça este nome fora do âmbito da justiça do
reino de Deus. E essa justiça se mostra na compaixão solidária e ativa com as
vítimas, com todas as categorias de pessoas excluídas e marginalizadas. A paz
não pode ser fruto da contemporização com o mal e com a injustiça.
Jesus
diz que veio lançar fogo na terra, porque o fogo do Espírito, experimentado por
ele no batismo e manifestado na fidelidade até à cruz, revela, distingue e
purifica nossas intenções e projetos pessoais e sociais. Este Espírito é o dom
de si mesmo, feito de uma vez por todas no alto do Calvário, dom esse que
inunda o mundo qual enxurrada, que espalha um fogo que acende mil outros focos
de incêndio.
As várias manifestações da divisão das quais fala
Jesus no evangelho de hoje não são frutos de um desejo doentio ou violento, de
uma mentalidade sectária e litigiosa, mas consequências de um posicionamento
lúcido e firme contra a ordem e os hábitos dominantes. Nossa lealdade com a
novidade e a justiça do Reino de Deus está acima dos laços familiares e pode
até provocar cisão e distanciamento.
Meditação:
§ Retome
e reconstrua o fato, a parábola e a conclusão de Jesus, deixando que as imagens
e palavras ressoem em você
§ Acolha
as palavras incisivas de Jesus, sem deixar-se assustar por elas, mas também sem
esvaziá-las de sua natural urgência
§ Como
você vem tentando proporcionar o encontro entre a justiça e a paz, entre o amor
e a fidelidade ao Evangelho?
§ Recorde
situações em que, por fidelidade a Jesus e seu Evangelho, você provocou tensões
nos círculos mais próximos
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