Aumentar os
lugares à mesa, não as dimensões do celeiro! | 509 | 21.10.2024 | Lucas
12,13-21
Chamando Jesus de mestre, o personagem sem nome da cena do evangelho de
hoje não está expressando sua adesão a ele. Jesus percebe a ironia da saudação
e as contradições do demandante, tanto que, respondendo, dá a entender que, se
não for aceito como mestre, também não pode ser buscado como juiz. No fundo,
Jesus percebe que este indivíduo não é uma pessoa em necessidade e nem
candidato a discípulo. Trata-se de alguém queimado pela ganância. Mas essa
situação proporciona a Jesus a oportunidade de falar sobre a relação do
discípulo com os bens.
“Atenção! Guardai-vos contra todo tipo de ganância, pois mesmo que se
tenha muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens”. Esta é a
reação de Jesus ao perceber que, por trás de muitos pedidos de “justiça”, não
está uma necessidade, nem uma sede de justiça, mas o desejo de possuir bens. E,
para sublinhar a seriedade da sua exortação, propõe uma parábola na qual o
protagonista é uma pessoa radicalmente voltada para si mesma, extremamente
ambiciosa, que fala e decide tudo sozinha e não se interessa por mais ninguém.
No final de uma safra bem-sucedida, o personagem diz a si mesmo: “Meu
caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe e goza da
vida”. Como não lembrar aqui a parábola do rico que festeja indiferente à
miséria de Lázaro que jaz à sua porta (Lc 16,19-31)? Segundo Jesus, as pessoas
que agem assim são desprovidas de qualquer resquício de razão, vazias de
qualquer valor humano, e passam longe da piedade cristã. São o tipo de
indivíduos que, com suas decisões, cavam abismos que os separam dos demais
“simples humanos”.
Mas, se o acúmulo desmedido de bens é tolice e
pobreza humana, o que significa ‘ser rico diante de Deus’? Está claro que, para
Jesus, o problema não está nos bens em si mesmos. O mal dos bens está no
obstáculo que podem interpor à liberdade radical e ao engajamento no movimento
do Reino de Deus, que passa necessariamente pela partilha solidária. O Reino de
Deus é a pérola preciosa e o tesouro que vale mais que tudo, o terreno no qual
brota o trigo que vai para a mesa dos pobres, o ventre no qual é gerada a nova
humanidade. Aos ricos, o que falta não são armazéns novos, mas uma visão mais
solidária e um coração mais generoso. A pessoa rica diante de Deus aumenta o
tamanho da mesa, para acolher, e não as dimensões do celeiro!
Meditação:
§ Leia atentamente esse relato de Lucas, e perceba
a atitude dos personagens, especialmente o ensino de Jesus
§ Preste atenção nas palavras do protagonista da
parábola: o “eu” está no centro de tudo, ocupa todo o seu pensamento
§ Quais as luzes que a parábola e o ensino de
Jesus trazem para quem só pensa em acumular, e para quem não tem nem o
necessário?
§ O que significar hoje ser “rico diante de Deus”
e “não ajuntar tesouros para si mesmo”?
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