Diante do
fracasso do matrimônio, a acolhida vem em primeiro lugar | 494 | 05.10.2024 | Marcos
10,2-16
Querendo questionar
a prática libertária de Jesus, os fariseus perguntam se a lei permite que um
homem se divorcie de sua mulher. Eles sabem o que diz a tradição: “Quando um
homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele não gostar
mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um
documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade”
(Dt 24,1). Este versículo causa arrepios nos moralistas de plantão.
A lei de Moisés é patriarcal. Para
abandonar a mulher, bastava encontrar nela algo de inconveniente. Para
responder à pergunta dos fariseus e não cair na armadilha que eles preparam, Jesus
situa essa lei no seu contexto original: diante da fraqueza e da maldade dos
homens, Moisés tentou ao menos dar um salvo-conduto à mulher abandonada pelo marido.
O documento de divórcio dava à mulher abandonada um mínimo de dignidade. “Foi
por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento”.
Mas este não é o projeto original de Deus.
Jesus reconhece também que as
separações são um fato, muitas vezes doloroso e trágico, no qual as
responsabilidades e os direitos precisam ser divididos igualmente. Podemos
dizer que não é errado repetir que nada e ninguém deve separar aqueles que Deus
uniu. Mas é preciso também reconhecer que nunca deveríamos marcar com o selo da
indissolubilidade as decisões imaturas e baseadas em tudo menos no amor.
Movidos por um comodismo irresponsável, ao defender a lei fria e a moral
burguesa, podemos criar algemas que colocam as pessoas numa gaiola cujas chaves
estão nas nossas mãos, ou colocar sobre elas fardos que não ajudamos a
carregar.
Depois de
responder aos fariseus e de, em casa, aprofundar com os discípulos a questão do
casamento e do divórcio, algumas crianças são apresentadas a Jesus. Ele
demonstra uma certa irritação com a dominação e as barreiras impostas às
crianças. Ao pedir que deixem as crianças se aproximarem dele, Jesus enfatiza
que Deus não despreza nem violenta os mais fracos, como alguns o fazem,
inclusive em nome de frias doutrinas e leis pouco cristãs. Ele acolhe e abençoa
as primeiras vítimas dos relacionamentos fracassados. “Deixem que as crianças
venham a mim, e não as impeçam de fazê-lo!” Também em relação aos matrimônios
fracassados sejamos hospital de campanha, e não alfândegas fronteiriças.
Meditação:
·
Recorde
as múltiplas justificativas e desculpas que são usadas hoje para romper um
vínculo matrimonial
·
Geralmente,
os “valores” reivindicados são liberdade, autonomia, felicidade, direito a
repensar as opções feitas, tudo muda...
·
Recorde
também as palavras duras, pesadas e frias de quem defende simplesmente a lei da
indissolubilidade
·
Em
meio a tudo isso, que luzes e que orientação nos traz a palavra de Jesus no
Evangelho de hoje?
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