sábado, 5 de outubro de 2024

Diante do fracasso do matrimônio, a acolhida

Diante do fracasso do matrimônio, a acolhida vem em primeiro lugar | 494 | 05.10.2024 | Marcos 10,2-16

Querendo questionar a prática libertária de Jesus, os fariseus perguntam se a lei permite que um homem se divorcie de sua mulher. Eles sabem o que diz a tradição: “Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade” (Dt 24,1). Este versículo causa arrepios nos moralistas de plantão.

A lei de Moisés é patriarcal. Para abandonar a mulher, bastava encontrar nela algo de inconveniente. Para responder à pergunta dos fariseus e não cair na armadilha que eles preparam, Jesus situa essa lei no seu contexto original: diante da fraqueza e da maldade dos homens, Moisés tentou ao menos dar um salvo-conduto à mulher abandonada pelo marido. O documento de divórcio dava à mulher abandonada um mínimo de dignidade. “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento”. Mas este não é o projeto original de Deus.

Jesus reconhece também que as separações são um fato, muitas vezes doloroso e trágico, no qual as responsabilidades e os direitos precisam ser divididos igualmente. Podemos dizer que não é errado repetir que nada e ninguém deve separar aqueles que Deus uniu. Mas é preciso também reconhecer que nunca deveríamos marcar com o selo da indissolubilidade as decisões imaturas e baseadas em tudo menos no amor. Movidos por um comodismo irresponsável, ao defender a lei fria e a moral burguesa, podemos criar algemas que colocam as pessoas numa gaiola cujas chaves estão nas nossas mãos, ou colocar sobre elas fardos que não ajudamos a carregar.

Depois de responder aos fariseus e de, em casa, aprofundar com os discípulos a questão do casamento e do divórcio, algumas crianças são apresentadas a Jesus. Ele demonstra uma certa irritação com a dominação e as barreiras impostas às crianças. Ao pedir que deixem as crianças se aproximarem dele, Jesus enfatiza que Deus não despreza nem violenta os mais fracos, como alguns o fazem, inclusive em nome de frias doutrinas e leis pouco cristãs. Ele acolhe e abençoa as primeiras vítimas dos relacionamentos fracassados. “Deixem que as crianças venham a mim, e não as impeçam de fazê-lo!” Também em relação aos matrimônios fracassados sejamos hospital de campanha, e não alfândegas fronteiriças.

 

Meditação:

·        Recorde as múltiplas justificativas e desculpas que são usadas hoje para romper um vínculo matrimonial

·        Geralmente, os “valores” reivindicados são liberdade, autonomia, felicidade, direito a repensar as opções feitas, tudo muda...

·        Recorde também as palavras duras, pesadas e frias de quem defende simplesmente a lei da indissolubilidade

·        Em meio a tudo isso, que luzes e que orientação nos traz a palavra de Jesus no Evangelho de hoje?

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