Que o Senhor
nos livre da hipocrisia, do cinismo e da incoerência! | 504 | 16.10.2024 | Lucas 11,42-46
Para bem entender esta passagem, não
esqueçamos que, segundo Lucas, Jesus pronuncia essa série de advertências aos
fariseus estando na casa de um deles! A expressão “ai de vós” é própria dos
profetas e profetizas de Israel, recorrente nos apelos à conversão em situações
de pecado e de injustiça social, já que são essas situações que atraem a ruína
da sociedade, especialmente dos mais pobres. Não mais lamentações que ameaças,
e têm mais força moral e espiritual que poder.
Jesus começa dirigindo-se aos fariseus.
A primeira lamentação,
crítica ou denúncia de Jesus voltada aos fariseus põe em evidência a proverbial
obsessão deles pelos detalhes insignificantes das leis, ao mesmo tempo em que
ignoram olimpicamente aquilo que é transcendente e essencial, ou seja, a
prática do amor e da justiça em favor dos setores sociais em situação de
vulnerabilidade social e das pessoas desamparadas. Eles se apegam à
exterioridade e às coisas secundárias.
A segunda acusação
é a constante reivindicação de prioridade, honra e privilégio, uma espécie de
gosto pelo exibicionismo. No fundo, os fariseus querem ser considerados e
reconhecidos como as pessoas e os fiéis mais perfeitos, mais honrados e mais
importantes, mas não se preocupam com a incoerência com aquilo que creem e
ensinam. Assim, vivem o contrário daquilo que ensinam, e o que fazem é colocar
fardos pesados nas costas dos mais pobres.
A terceira crítica
dirigida aos fariseus é de falsidade ou hipocrisia, o hábito de demonstrar uma
piedade que não vivem, de esconder a podridão interior e os interesses vorazes sob
uma roupagem de piedade. É nisso que os fariseus, como grupo religioso e
social, se parecem com sepulturas disfarçadas com pinturas e ornamentos,
comportamento que leva os fiéis a andar por caminhos errados e a pisar sobre
imundícies sem darem-se conta.
Mais que uma ira santa contra alguns, Jesus
expressa seu amor solidário pelas vítimas desses comportamentos contraditórios.
Mas, para a elite do judaísmo, essa fala de Jesus ressoa como acusação e
insulto, e este chapéu acaba servindo também à cabeça dos mestres da lei. Como eles
assumem as dores dos fariseus, Jesus contempla também eles em sua crítica: o pecado
deles consiste em impor pesados fardos aos ombros já encurvados, em vez de
estender a mão para erguê-los.
Meditação:
·
Reconstrua mentalmente a cena na casa do fariseu,
participe dela, escute cada acusação que Jesus dirige ao seu grupo
·
Será que nós, que exercemos alguma liderança em
nossa comunidade de fé, não somos parecidos com os fariseus?
·
Onde nossas incoerências e nossa hipocrisia se
mostram mais?
·
Em que situações somos como sepulturas que ninguém
vê e, por isso, pisam nelas e se contaminam?
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