sábado, 19 de outubro de 2024

Nossa dignidade está em sermos servos

Nossa dignidade está em sermos servos, e nossa honra na humildade | 508 | 20.10.2024 | Marcos 10,35-45

Apesar do ensino particular, intenso, extenso e paciente de Jesus, os discípulos continuam resistentes e espantados frente a um messias humano, pobre e servidor. Nem mesmo o tríplice e antecipado anúncio da prisão, condenação, tortura e morte que sofreria num futuro próximo consegue abrir a mente deles. “Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo” (Mc 10,32).

Mas o pior é que todos os discípulos – e não apenas João e Tiago! – alimentam a ambição de partilhar com Jesus famoso as honras e benesses de uma esperada e fantasiosa vitória. Eles não conseguem ver a caminhada a Jerusalém senão como uma marcha de subida ao poder. Não imaginam que a elevação de Jesus seria na cruz do calvário, e que à esquerda e à direita dele não estariam aqueles que o aspiravam e postulavam, mas dois ativistas rebeldes.

O pedido explícito de João e Tiago e a ambição oculta de todos os demais discípulos aborrecem Jesus. Por isso, Jesus fala com uma certa amargura e com notas de advertência e reprovação: “Vocês não sabem o que estão pedindo...”  Nem mesmo o confronto dos discípulos com o martírio é capaz de tirá-los do sonho de poder. Eles respondem mentindo aos questionamentos se eles estarão dispostos a beber do mesmo cálice que ele beberia. E a Jesus só lhe resta falar com ironia.

Quando Jesus ensina que quem quiser ser grande deve tornar-se o servo, e quem quiser ser o primeiro deve ocupar o último lugar, não está falando de um certo e afetado sentimento de humildade. O que ele pede é que nos situemos ao lado dos últimos e aceitemos ser incluídos entre as crianças e escravos. A autêntica humildade é o reconhecimento da verdade sobre nós mesmos, pois quem se considera superior ou inferior aos outros tem uma falsa imagem de si mesmo.

Tornar-se criança e assumir a postura de servo não tem nada a ver com ingenuidade, imaturidade ou autodesprezo. Jesus propõe como valores a sinceridade, a confiança radical, a liberdade frente às preocupações, a capacidade de alegrar-se com as surpresas da vida, a aceitação da minoridade. Ser Servo não significa ser passivo, e ocupar o último lugar rima com a proclamação da dignidade dos pequenos e ressoa como crítica a quem usurpa à força os primeiros lugares.

 

Meditação:

·        Retome e reconstrua esta cena, participando dele, ouvindo as palavras e observando as reações de cada personagem

·        Você acha que também nós, lideranças eclesiais e sociais, caímos nas disputas fratricidas pelo poder e pelos primeiros lugares?

·        O que significa hoje, concretamente, ser o último e o servidor de todos? Como os cristãos o demonstram?

·        Você acredita e aceita de verdade que esse é o caminho que nos faz felizes, o percurso que nos conduz à plenitude, à salvação?

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