domingo, 26 de janeiro de 2025

Domingo da Palavra

Deposito minha esperança em tua Palavra!

No próximo dia 26, as comunidades cristãs católicas celebram o Domingo da Palavra. Este evento anual foi definido em 2019, pelo Papa Francisco, e acontece no terceiro domingo do tempo comum.  Esta efeméride vem somar-se ao Mês da Bíblia, que, há 48 anos, tem lugar todos os anos, no mês de setembro. Os dois eventos resgatam a relevância da Palavra de Deus na vida cristã, bastante esquecida nos últimos quatro séculos.

Com este evento, a Igreja quer reforçar o convite tenaz de Jesus a ouvir, guardar e praticar a sua Palavra e, assim, oferecer ao mundo um testemunho de uma esperança que nos ajude a superar as dificuldades do presente. “Deposito minha esperança em tua Palavra”, é o grito de resistência e esperança que atravessa todo o Salmo 119, o mais longo da Bíblia, dedicado inteiramente à meditação da Palavra que sai da boca de Deus.

No conturbado e complexo lapso de tempo que vai do século XVI a meados do século XX, a relevância e a pertinência da Palavra de Deus manteve-se viva graças à fidelidade do movimento protestante. Neste período, as tradições católicas priorizaram outros aspectos das fontes da fé. Se não chegaram a impedir aos fiéis o acesso às Sagradas Escrituras, ao menos não recomendaram que fosse lida e levada em consideração.

É claro que, enquanto inspirada por Deus, a Bíblia contém a Palavra divina, mas que ninguém tente confinar a Palavra de Deus nos livros sagrados, nos textos escritos. A Palavra de Deus é viva e dinâmica. Jesus, a Palavra de Deus que se faz carne, precede (existiu antes) e excede (ressoa também nos acontecimentos) a Sagrada Escritura. Com a ajuda da tradição cristã viva, Jesus é a chave que nos abre seu sentido.

Bento XVI ensina que, em Jesus Cristo, “a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível; agora a Palavra tem um rosto”. No alto da cruz, “o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque Se disse até calar, nada retendo do que nos devia comunicar” (Verbum Domini, 12).

Vale a pena recordar aqui um episódio que envolve o apóstolo Pedro. Ele conheceu Jesus depois de uma frustrada noite de pescaria. Jesus entra no seu barco repleto de cansaço e desolação e, desde este vazio, anuncia o Evangelho a um povo sedento de boas notícias. No fim, Jesus manda que Pedro avance para águas mais profundas e lance de novo as redes. Mesmo sabendo por experiência que a hora não era adequada, em atenção à Palavre dele, jogou a rede e foi surpreendido pelo resultado.

Que este Domingo da Palavra ressoe como apelo e seja vivido como uma oportunidade a familiarizar-se com a Palavra de Deus, permitindo que o Evangelho seja a luz a guiar nossos passos, projetos e decisões. Que ela nos ajude a continuar sendo peregrinos de esperança. E que, diante das Escrituras, numa atitude de escuta atenta e dócil acolhida, possamos tecer de novo os laços da unidade cristã. Católicos e evangélicos, temos todos a mesma Escritura, a Palavra que se fez carne e Boa Notícia de salvação em Jesus.

Dom Itacir Brassiani msf

Bispo de Santa Cruz do Sul

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