O direito à vida está acima do direito à propriedade | 599 | 21.01.2025 | Marcos 2,23-28
No trecho do Evangelho que meditamos ontem vimos que Jesus não veio pedir a multiplicação de promessas, ofertas e velas, mas participação na solidária e inclusiva caravana da vida nova, que ele chama Reino de Deus. A cena de hoje é a terceira que discute a nova prática dos discípulos: a primeira foi sobre a comunhão de mesa com os marginalizados; a segunda foi sobre o não cumprimento do jejum; a terceira é sobre o direito de comer quando têm fome.
O que está em foco hoje é a observância das leis que impedem o trabalho humano aos sábados e que estabelecem a “inviolabilidade da propriedade privada”. O fato é que, atravessando o campo, os discípulos de Jesus colhem espigas de trigo, e fazem isso porque estão com fome ou para abrir passagem. Os fariseus os acusam diante de Jesus: eles não estão cumprindo as leis!
Jesus responde secamente aos fariseus, dando a entender que eles não conhecem as Escrituras, ou que gostam de citar apenas os textos que lhes interessam. Conforme o livro de Samuel (1Sm 21,1-6), Davi recebe do sacerdote os pães reservados para o consumo exclusivo dos sacerdotes, e alimenta com eles seus soldados, engajados numa campanha importante e que estavam com fome. Ou seja: numa situação de emergência, o alimento pertence a todos!
O que os discípulos de Jesus fazem, e o que Jesus ensina, é uma espécie de “desobediência civil” às normas da política alimentar da Palestina, e isso com base na Escritura, que expressa a vontade de Deus. Com Jesus a antiga aliança é refeita, a criação chega à plenitude do sétimo dia. O Reino de Deus é festa, celebração e confraternização com Deus.
Jesus se declara o Humano por excelência, Senhor do sábado e Senhor da casa comum. Nenhuma lei, costume ou instituição pode ser colocada acima ou contra ele. O Reino de Deus, que Jesus anuncia e instaura, é a plenitude, o limite e o fim das leis, costumes e instituições. Nele, o que conta é a vida, o dom e a gratuidade, e não os deveres e os haveres. A angústia de um estômago vazio está acima das leis e mercados.
Meditação:
n Você consegue perceber que está em discussão não apenas a lei do sábado, mas também o direito à alimentação?
n Você acha que a necessidade de uma pessoa está acima do seu direito ao descanso, à propriedade dos bens e outros tantos?
n Por que os cristãos ainda têm dificuldade de questionar a compra em moeda como único caminho para conseguir alimentos?
n Por onde começar para ajudar a Igreja a não colocar as leis, costumes e instituições acima das necessidades das pessoas?
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