quinta-feira, 17 de junho de 2021

O Evangelho dominical (Pagola) - 20.06.2021

CONFIAR

Mal se ouve falar hoje da providência de Deus. É uma linguagem que tem vindo a cair em desuso ou se converteu numa forma piedosa de considerar certos acontecimentos. No entanto, acreditar no amor providente de Deus é uma característica básica do cristão.

Tudo brota de uma convicção radical. Deus não abandona nem se desobriga daqueles a quem cria, mas sustenta a sua vida com amor fiel, vigilante e criador. Não estamos à mercê do acaso, do caos ou da fatalidade. No interior da realidade está Deus, conduzindo o nosso ser para o bem.

Esta fé não nos livra de penas e trabalhos, mas nos enraíza na confiança total em Deus, que expulsa o medo de cair definitivamente sob as forças do mal. Deus é o Senhor último da nossa vida. Daí o convite da primeira carta de São Pedro: «Entreguem-lhe toda a vossa ansiedade, porque ele cuida de vós».

Isto não quer dizer que Deus intervenha em nossa vida como intervêm outras pessoas ou fatores. A fé na Providência caiu em descrédito precisamente porque foi entendida num sentido intervencionista, como se Deus se intrometesse nas nossas coisas, forçando os acontecimentos ou eliminando a liberdade humana. Não é assim. Deus respeita totalmente as escolhas das pessoas e a marcha da história.

Por isso, não se deve dizer propriamente que Deus guia nossa vida, mas sim que oferece a sua graça e a sua força para que nós a orientemos e guiemos para o nosso bem. Assim, a presença providencial de Deus não leva à passividade ou à inibição, mas à iniciativa e criatividade.

Por outro lado, não devemos esquecer que, embora possamos captar sinais do amor providencial de Deus em experiências concretas da nossa vida, a sua ação permanece sempre inescrutável. O que hoje nos parece mau pode ser amanhã uma fonte de bem. Somos incapazes de abarcar a totalidade da nossa existência; escapa-nos o sentido final das coisas; não podemos compreender os acontecimentos nas suas últimas consequências. Tudo está sob o sinal do amor de Deus, que não esquece suas criaturas.

Nesta perspectiva, a cena do Lago Tiberíades adquire toda a sua profundidade. No meio da tempestade, os discípulos veem Jesus dormindo confiantemente no barco. Do seu coração cheio de medo brota um grito: «Mestre, não te importa que nos afundemos?» Jesus, depois de contagiar o mar e o vento com sua calma, questiona: «Porque sois tão covardes? Ainda não tendes fé?»

José Antonio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

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