CONFIAR
Mal se ouve falar hoje da providência
de Deus. É uma linguagem que tem vindo a cair em desuso ou se converteu numa
forma piedosa de considerar certos acontecimentos. No entanto, acreditar no amor providente de Deus é uma
característica básica do cristão.
Tudo brota
de uma convicção radical. Deus não abandona nem se desobriga daqueles a quem
cria, mas sustenta a sua vida com amor fiel, vigilante e criador. Não estamos à
mercê do acaso, do caos ou da fatalidade. No interior da realidade está Deus, conduzindo
o nosso ser para o bem.
Esta fé não nos livra de penas e
trabalhos, mas nos enraíza na confiança total em Deus, que expulsa o medo de
cair definitivamente sob as forças do mal. Deus é o Senhor último da nossa
vida. Daí o convite da primeira carta de São Pedro: «Entreguem-lhe toda a vossa ansiedade, porque ele cuida de vós».
Isto não quer dizer que Deus intervenha
em nossa vida como intervêm outras pessoas ou fatores. A fé na Providência caiu em descrédito precisamente porque foi
entendida num sentido intervencionista, como se Deus se intrometesse nas nossas
coisas, forçando os acontecimentos ou eliminando a liberdade humana. Não é
assim. Deus respeita totalmente as escolhas das pessoas e a marcha da história.
Por isso, não se deve dizer propriamente que Deus guia nossa vida, mas sim que
oferece a sua graça e a sua força para que nós a orientemos e guiemos para o
nosso bem. Assim, a presença
providencial de Deus não leva à passividade ou à inibição, mas à iniciativa e
criatividade.
Por outro lado, não devemos esquecer
que, embora possamos captar sinais do amor providencial de Deus em experiências
concretas da nossa vida, a sua ação permanece sempre inescrutável. O que hoje
nos parece mau pode ser amanhã uma fonte de bem. Somos incapazes de abarcar a totalidade da nossa existência; escapa-nos
o sentido final das coisas; não podemos compreender os acontecimentos nas suas
últimas consequências. Tudo está sob o sinal do amor de Deus, que não
esquece suas criaturas.
Nesta perspectiva, a cena do Lago
Tiberíades adquire toda a sua profundidade. No meio da tempestade, os
discípulos veem Jesus dormindo confiantemente no barco. Do seu coração cheio de
medo brota um grito: «Mestre, não te importa que nos afundemos?» Jesus, depois
de contagiar o mar e o vento com sua calma, questiona: «Porque sois tão
covardes? Ainda não tendes fé?»
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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