O TRABALHO NÃO É TUDO!
Poucas parábolas podem causar maior
rejeição na nossa cultura de desempenho, produtividade e eficácia do que esta
pequena parábola em que Jesus compara o reino de Deus com esse misterioso
crescimento da semente, que produz sem a intervenção do semeador.
Esta parábola, tão esquecida hoje,
destaca o contraste entre a espera paciente do semeador e o crescimento
irresistível da semente. Enquanto o semeador dorme, a semente germina e cresce,
sem a intervenção do agricultor e sem que ele saiba como.
Habituados a valorizar quase
exclusivamente a eficiência e a performance, esquecemo-nos de que o Evangelho
fala de fecundidade, não de esforço, pois Jesus entende que a lei fundamental
do crescimento humano não é o trabalho, mas o acolhimento da vida que vamos
recebendo de Deus.
A sociedade atual empurra-nos com tal
força para o trabalho, a atividade e o rendimento que já não percebemos até que
ponto nos empobrecemos quando tudo se reduz a trabalhar e a ser eficaz.
De fato, a lógica da eficácia está a
levar o homem contemporâneo a uma existência tensa e sobrecarregada, a uma
deterioração crescente das suas relações com o mundo e as pessoas, a um esvaziamento
interior e a essa síndrome da imanência onde Deus desaparece pouco a pouco do
horizonte da pessoa.
A vida não é só trabalho e
produtividade, mas um presente de Deus que devemos acolher e desfrutar com
coração agradecido. Para ser humana, a pessoa precisa aprender a estar na vida
não só a partir de uma atitude produtiva, mas também contemplativa. A vida
adquire uma nova e mais profunda dimensão quando conseguimos viver a
experiência do amor gratuito, criativo e dinamizador de Deus.
Precisamos aprender a viver mais
atentos a tudo o que há de oferta na existência; a despertar no nosso interior
o agradecimento e o louvor; a libertarmo-nos da pesada lógica de eficácia e
abrir em nossa vida espaços para a gratuidade.
Precisamos agradecer a tantas pessoas
que alegram a nossa vida, e não passar à margem de tantas paisagens feitas
apenas para serem contempladas. Saboreia a vida como graça quem se deixa amar,
surpreender pelo bom de cada dia, agraciar por Deus.
José Antonio Pagola
Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez
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