Bem que o velho Simeão havia vislumbrado com
perspicácia: o Menino nascido em Belém, aquele que tivera a manjedoura como
berço e os pastores arredios como primeiros visitantes, seria sempre e em tudo
sinal de contradição... E não apenas isso: jovem profeta em início de missão, o
próprio Jesus adverte que aqueles que o seguem e se incorporam ao seu
movimento: “Cuidado!... Vocês serão levados aos tribunais por minha causa.
Irmãos entregarão irmãos, pais entregarão os filhos e os filhos se levantarão
contra os pais e os matarão...” Ele não dormiu em paz, nem no berço de palha,
nem em berço de ouro. Logo cedo, o canto harmonioso dos anjos celestes e a luz
alegre das estrelas cedeu lugar aos gritos de protesto e à penumbra da
perseguição. A espiritualidade cristã se recusa e maquiar este aspecto da fé
cristã, questiona a bondade postiça e enganadora do velho de barbas brancas e
roupas vermelhas e nos propõe logo no dia que segue o Natal de Jesus a memória
do martírio do diácono e evangelizador Estêvão. Mas o faz não como advertência
nem com a intenção de desmanchar os prazeres do Natal, mas para nos pedir que a
preocupação com a própria defesa não amordace a alegria do Evangelho; para nos
lembrar que a perseguição nos dá de presente a possibilidade do testemunho; para
recordar que o próprio Espírito fala em nossas frágeis e inseguras palavras; para
afirmar que somos salvos e vivemos não apenas quando duramos e prolongamos
nossa vida no tempo mas essencialmente quando perseveramos no caminho da
compaixão, do testemunho e do dom de nós mesmos. Que Santo Estêvão, de pé ao
nosso lado, com os olhos fixos no céu e com palavras que provocam e perdoam nos
lábios, nos ajude a sermos dignos da vida que celebramos no Natal de Jesus de
Nazaré e nele recebemos. (Itacir
Brassiani msf)
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