Todas as religiões
podem ser caminhos que levam a Deus!
Dentro do
belo tempo do Natal, neste primeiro domingo do ano somos convidados a
participar da festa da manifestação de Jesus Cristo como caminho de salvação aberto
a todos os povos. Nele, todos os povos são reconhecidos como legítimos
herdeiros, e todas as religiões são estabelecidas como válidos caminhos que
levam à vida. Ademais, Jesus Cristo não é propriedade exclusiva dos católicos,
nem dos cristãos: ele está acima dessas divisões. É claro que não podemos
menosprezar a religião cristã, mas isso não significa cair na ideologia que
condena e descarta as outras como erro e pecado.
Na
tentativa de falar sobre Deus, a teologia não consegue abandonar as velhas imagens
de poder e de realeza, e faz um esforço inútil para aplicá-las a Jesus Cristo.
Mas, como ocorreu com os três magos, quem encontra realmente Jesus Cristo e o
reconhece, precisa mudar também seu caminho teórico e tentar inventar uma nova
linguagem para falar sobre Deus, uma linguagem que parte do presépio e da cruz.
Diante de um Deus em fraldas, somos interpelados a mudar nossas idéias sobre
Deus...
Aproximemo-nos
do estábulo de Belém, reconheçamos e acolhamos o rei-servo que nos faz livres e nos conduz ao melhor de nós mesmos,
que nos leva para fora do estreito círculo dos interesses mesquinhos e dos
medos disfarçados. Contemplemos a glória de Deus que brilha nas suas criaturas
e deixemos aos seus pés nossos melhores dons: o desejo de uma humanidade tecida
de infinitos gestos de aproximação e solidariedade, inclusive entre aqueles não
pertencem à mesma nação ou religião.
A liturgia
nos sugere acolher a manifestação de Jesus Cristo num horizonte de resgate da
esperança e da alegria de viver, e isso não apenas para quem acredita nele e
tem carimbada sua ficha de batismo. Os povos e religiões estranhas e
estrangeiras também têm lugar nesta alegria. Todos nasceram igualmente para
brilhar. A razão desta alegria é o Deus Menino que, na sua insuperável
proximidade e inigualável simplicidade, justifica todos os seres humanos e
restaura a paz entre os povos.
Homens de
outros pagos e diferentes crenças, os magos chegam a Jerusalém vindos do Oriente,
guiados por um sinal. Eles batem às
portas dos chefes políticos e líderes religiosos e pedem ajuda para decifrar os
sinais e descobrir o caminho. Os escribas mostram seu saber, mas são incapazes
de se mover. Herodes fica sabendo das coisas, mas é assaltado pelo medo de
perder o poder. Os magos descobrem que Aquele que merece honra e reverência não
está nos palácios e nas capitais...
É em
direção a Belém que os magos seguem, e é lá que encontram a alegria com feições
de um menino, deitado numa manjedoura, sob o olhar cuidadoso de uma mãe.
Herodes aconselhara que eles fossem a Belém em busca de informações, mas eles
caminham levando presentes, e não cadernos de anotações... A estrela-sinal cumpre um papel
transitório, pois o sinal de que a
humanidade tem um novo líder é o “menino deitado na manjedoura”. Os magos
reconhecem a realeza do Menino e lhe oferecem ouro; proclamam sua divindade,
oferecendo-lhe incenso; prenunciam sua morte oferecendo-lhe mirra.
Nem o
medo de Herodes e suas estratégias de espionagem, nem a indiferença dos líderes
religiosos, nem o medo do rei submisso ao império, nem o paradoxo da estrebaria
intimidam estes buscadores de Deus. Que prova para uma fé pouco robusta!...
Eles compreendem que a estrebaria é a morada mais adequada para quem vem abater
os poderosos e elevar os humildes. Este é o núcleo da fé que professamos: Deus
sente-se bem assumindo a carne humana e vivendo na periferia!
Paulo nos
fala de um mistério até então desconhecido e finalmente a revelado: que todos
os povos e religiões participam da mesma herança do Reino de Deus e são membros
do corpo de Cristo em igual dignidade com os judeus. Com isso, questiona os
muros que hierarquizam e separam, e atrai a desconfiança de muitos
compatriotas. Em nome de Deus, Paulo nega toda espécie de superioridade
religiosa. Na raiz da nossa fé está também esta alegre descoberta da igualdade,
sem privilégios: igualdade entre homens e mulheres, cristãos e não-cristãos,
analfabetos e graduados, clero e leigos...
Dirigimo-nos a ti, Deus dos Humildes, Deus
envolto em faixas, destino e refúgio de quem peregrina nas estradas de um mundo
desigual. Dá-nos palavras e sinais que guiem nossos passos inseguros no rumo
certo. Não deixes que nos detenhamos nos palácios que escondem prisões, nem nas
doutrinas que se transformam em arpões. Ajuda-nos a reconhecer tua presença na
Belém de todos os homens e mulheres, e a ver as diversas religiões como
caminhos que conduzem ao encontro contigo. Caminha à nossa frente, e ajuda-nos
a não deixar sempre aos outros a iniciativa da comunhão ecumênica. Assim seja!
Amém!
Itacir Brassiani msf
(Profecia de Isaías 60,1-6 * Salmo 71(72) * Carta
aos Efésios 3,2-6 * Evangelho de Mateus 2,1-12)
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