sábado, 17 de maio de 2025

Apenas e sempre amigos

COMUNIDADE DE AMIGOS

(Tempo Pascal | Quinto domingo | 18.05.2025)

 

Jesus partilha com os seus discípulos os últimos momentos antes de voltar ao mistério do Pai. O relato de João recolhe com cuidado o seu testamento: aquilo que Jesus quer deixar para sempre gravado nos seus corações: «Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei».

O evangelista João tem a sua atenção posta na comunidade cristã. Não está pensando nas pessoas de fora. Quando faltar Jesus, na sua comunidade terão de se amar uns aos outros como amigos, porque era assim que Jesus os amava: «Vós sois meus amigos»; «Já não vos chamo servos, chamei-vos amigos». A comunidade de Jesus será uma comunidade de amizade.

Esta imagem da comunidade cristã como «comunidade de amigos» foi rapidamente esquecida. Durante muitos séculos, os cristãos viram-se a si mesmos como uma família, onde alguns são «pais» (o Papa, os bispos, os padres, os abades, etc.); outros são «filhos» fiéis, e todos devem viver como «irmãos».

Uma comunidade desse tipo estimula a fraternidade, mas tem os seus riscos. Na «família cristã» tende-se a sublinhar o lugar que pertence a cada um. Destaca-se o que nos diferencia, não o que nos une; dá-se muita importância à autoridade, à ordem, à unidade, à subordinação. E corre-se o risco de promover a dependência, a irresponsabilidade e a infantilidade de muitos.

Uma comunidade baseada na amizade cristã enriqueceria e transformaria a Igreja de Jesus. A amizade promove o que nos une, não o que nos diferencia. Entre amigos cultiva-se  igualdade, reciprocidade e apoio mútuo. Ninguém está acima de ninguém. Nenhum amigo é superior a outro. As diferenças são respeitadas, mas a proximidade e o relacionamento são cuidados.

Entre amigos é mais fácil sentir-se responsável e colaborar. E não é tão difícil estar abertos a estranhos e diferentes, a quem precisa de acolhimento e amizade. É difícil sair de uma comunidade de amigos. De uma comunidade fria, rotineira e indiferente, as pessoas vão embora, e quem fica quase não sente.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

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