Jesus está conosco, mas
será que nós o conhecemos? | 701 | 03.05.2025 | João 14,6-14
Esta passagem faz parte da catequese que Jesus desenvolve logo
depois da ceia e do lava-pés, e ilumina a festa dos apóstolos São Filipe e São
Tiago. Filipe pede que Jesus lhes mostre o Pai. “Senhor, mostra-nos o Pai, e
isso nos basta”! É um pedido quase desesperado diante do desconcerto de um
Messias que se inclina diante do Homem para lavar seus pés e dar sua vida.
Jesus já
havia deixado claro que é nele que temos acesso ao Pai, pois ele é o caminho, a
verdade e a vida. Por isso, Jesus responde lamentando a dificuldade dos discípulos
em ver nele o rosto do Pai: “Se me conheceis, conhecereis também o meu Pai. Há
tanto tempo estou convosco e não me conheces? Quem me vê, vê o Pai. Crede, ao
menos, por causa destas obras...”
O
problema de Filipe é o nosso problema. Custa-nos aceitar que o Deus que
revestimos de onipotência e colocamos no altíssimo nos é dado a conhecer nas
ações concretas de Jesus de Nazaré. Não é que queiramos ver mais; queremos ver
outras coisas, menos concretas, mais abstratas e passíveis de manipulação;
coisas mais doutrinais e menos interpeladoras, como é lavar é os pés dos irmãos,
alimentar os famintos, resgatar a cidadania de quem está à margem e dar a vida
sem reservas.
O
problema continua, e se torna ainda mais sério, quando e na medida em que
queremos dar a impressão de que conhecemos Jesus, e fazemos o possível para
impor a imagem que temos dele a quem crê diversamente. A tentação da qual não
nos livramos é fazer Jesus vestir o figurino que de antemão preparamos para
ele, de obrigá-lo a fazer aquilo que decidimos em nossas faculdades de teologia
e gabinetes doutrinais.
Imagino Jesus dirigindo-se hoje a nós, e
dizendo em tom de advertência: “Há tanto tempo estou com vocês e vocês não me
conhecem!” Crer nele é fazer aquilo que ele faz, prosseguir sua ação
libertadora, entrar no caminho da compaixão, armar a tenda dos nossos sonhos e
projetos no chão da humanidade ferida e sedenta de vida. O resto é culto às
vaidades que passam, serviço aos poderes que oprimem, fuga das
responsabilidades.
Sugestões para meditar
§ Recomponha na memória os gestos as palavras desse diálogo de Jesus com
os seus discípulos
§ Será que também nós partilhamos da cegueira de Filipe, e não
conseguimos reconhecer Deus naquilo que Jesus faz e pede?
§ O que o processo de crescimento e renovação do apóstolo Filipe e do
discípulo tardio Tiago nos ensinam hoje?
§ Como podemos nós, em nosso tempo, recriar esta ação de Jesus, inclusive
com maior alcance e eficácia?
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