sexta-feira, 23 de maio de 2025

Jubileu dos Agentes Políticos

Nós e o Espírito Santo decidimos não lhes impor nenhum fardo...

 

O Papa São Paulo VI cunhou a expressão “civilização do amor”, que atualiza os conceitos “amizade” (Leão XIII) e “caridade social” (Pio XI). Desde o Papa João Paulo II, falamos em “solidariedade”, e com o já saudoso Papa Francisco, passamos a falar de “amizade social” ou “amor civil”.  Celebrando hoje o Jubileu dos Agentes Políticos, convido a escutar o Evangelho de Jesus Cristo nessa perspectiva.

Partindo da alegoria da videira e dos ramos, Jesus pede, e seu pedido tem força de testamento: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei... Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando... Isto eu que vos ordeno: amai-vos uns aos outros”. Nada mais que isso! Nada menos que isso!

Acolhendo esse mandamento, como amigos autênticos e herdeiros de Jesus, os apóstolos enviaram Silas e Bársabas para, com Paulo e Barnabé para comunicar aos cristãos de origem pagã a decisão unânime de evitar discriminações e menosprezo, de não impor a eles nenhum fardo. Bastava-lhes o fardo das lutas para sobreviver dignamente no interior de um império violento e expropriador.

Esta decisão unânime é fruto de um processo de escuta atenta das bases e da periferia do cristianismo de então. É uma decisão ponderada, tomada de forma consensual. É uma bela demonstração de espírito sinodal, como diríamos hoje. E inaugura uma importante inovação da prática cristã: a liberdade frente às tradições do judaísmo, consideradas sagradas e imutáveis. A dignidade e as necessidades das pessoas concretas estão acima delas!

A decisão da comunidade apostólica é também uma clara demonstração da amizade com Jesus, da vivência do mandamento do amor fraterno em chave social. A propósito, a Igreja Católica ensina que o amor não inspira apenas a ação individual. Ele é também uma “força capaz de suscitar novas vias para enfrentar os problemas do mundo de hoje e para renovar profundamente desde o interior das estruturas, organizações sociais, ordenamentos jurídicos”. O amor se torna caridade social e política, um dinamismo que “nos leva a amar o bem comum e a buscar efetivamente o bem de todas as pessoas” (Compêndio da Doutrina Social, § 207).

Vale lembrar que a democracia, horizonte e valor inalienável de toda a ação política, não é em si mesma uma meta, mas um ordenamento ou instrumento a serviço dos valores que a orientam e lhe dão densidade. Uma autêntica democracia é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticosa dignidade da pessoa humana, o respeito dos direitos do homem, a busca do bem comum, que é o bem dos grupos humanos mais frágeis, devem ser o fim e o critério regulador de toda a vida política. Sem a referência a estes valores fundamentais, “as ideias e as convicções (inclusive o conceito de democracia) podem ser facilmente instrumentalizadas para fins de poder. Uma democracia sem valores converte-se facilmente num totalitarismo aberto ou dissimulado” (Idem, § 407).

E não esqueçamos, caros agentes políticos, que o sujeito da autoridade política é sempre o povo considerado na sua totalidade como detentor da soberania. De modos diferentes, o povo transfere o exercício da sua soberania àqueles que elege livremente como seus representantes, mas conserva a faculdade de a fazer valer no controle da atuação dos governantes (cf. Idem, § 395).

Para os cristãos de qualquer denominação, as expressões concretas do amor de Jesus servem de parâmetro também para o amor vivido em chave social: ele não se guiou pela busca de interesses e vantagens individuais; ele deu prioridade à necessidade dos últimos e marginalizados; o valor da pessoa humana concreta teve prioridade sobre as leis e tradições; ele desconheceu e desrespeitou as fronteiras políticas, étnicas e religiosas; sempre procurou evitar a violência verbal ou física, e chegou a perdoar seus algozes; respeitou a dissidência de Judas e até lavou os seus pés; preferiu dar a vida a abrir mãos de suas convicções; não impôs fardos pesados aos mais pobres; deu a vida para que todos tivessem acesso à vida plena e abundante, sem se apegar a privilégios e carreira. Ele é uma expressão madura de um amor social e político!

Santa Cruz do Sul, 23 de maio de 2025.


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