Conviver como irmãos, ou
perecer como loucos
O
pastor batista e ativista norte-americano negro Martin Luther King, assassinado
em abril de 1968, disse: “Temos que aprender a viver juntos como irmãos, ou
pereceremos juntos como loucos”. Ele se referia à necessidade de abrir caminhos
de convivência entre negros e brancos, mas essa afirmação pode ser aplicada
também à convivência, ao respeito e à colaboração entre as diversas
denominações cristãs.
Precisamos
tomar consciência de que as razões políticas, sociais, religiosas e psicológicas
que provocaram a reforma protestante e a reação católica já se perderam no
tempo e não fazem mais sentido hoje. Além disso, no dia 31 de outubro de 1999, a
Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial assinaram a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, um marco
histórico na caminhada ecumênica.
Essa
declaração é o ponto de chegada de uma longa caminhada iniciada em 1972, com o
impulso dado pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, e que contou com cinco
encontros de alto nível, antecedidos por minuciosos e preciosos trabalhos de
pesquisa levado adiante por conceituados teólogos e reconhecidos pastores de
ambas as partes. O resultado é uma declaração que merece ser acolhida com júbilo
e levada muito a sério.
Assim
se expressam os signatários: “A compreensão da Doutrina da Justificação exposta
nesta Declaração Conjunta mostra que entre católicos e luteranos existe um consenso em verdades básicas da
doutrina da justificação. As diferenças são apenas de terminologia, de
articulação teológica e na ênfase, mas são aceitáveis. Por isso as formas distintas pelas quais luteranos e
católicos articulam a fé na justificação estão abertas uma para a outra e não
anulam o consenso nas verdades básicas” (§ 40).
Para
compreender o alcance da Declaração
Conjunta é preciso não esquecer que as divergências em torno da doutrina
sobre a justificação foram causa de diversas condenações recíprocas entre
católicos e luteranos, desde o século XVI. Por isso, não se trata de um acordo
em torno de um simples ponto doutrinal, mas de um conceito fundamental para
orientar o conjunto da doutrina e da prática da Igreja para Cristo.
Assim,
católicos e luteranos estão de acordo que a Justificação (realidade oferecida
por Deus aos homens e também expressa como libertação da liberdade,
reconciliação com Deus, paz com Deus, graça, nova criação, etc.) é obra do Deus
Triúno; que todas as pessoas são chamadas por Deus para a salvação em Jesus
Cristo; que devemos nossa vida nova unicamente à livre e gratuita misericórdia
perdoadora e renovadora de Deus; que essa doutrina tem uma relação essencial com
as demais verdades da fé (cf. § 14-18).
Para
que nossa pregação e nosso testemunho sejam credíveis não é mais suficiente
respeitar as demais igrejas. Isso é indispensável, mas é apenas o mínimo. Lideranças
das Igrejas e fiéis, precisamos colocar em prática iniciativas de colaboração e
abrir espaços de encontro, diálogo e convivência. Se não fizermos isso, talvez
não morramos todos como loucos, mas estaremos passando um atestado da
imaturidade da nossa fé e dando mais razões àqueles que preferem tomar
distância das religiões.
Dom Itacir Brassiani msf
Bispo Diocesano de Santa Cruz do Sul
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