sexta-feira, 9 de maio de 2025

Os sinais emitidos por Leão XIV

É possível decifrar os sinais emitidos pelo Leão?

Tendo passado pouco mais de um dia desde o anúncio de habemus papam preanunciado pela mais famosa chaminé da face da terra, hipóteses, teses, intuições e informações garimpadas e agrupadas por jornalistas e vaticanólogos já enchem jornais, revistas e mídias sociais. Quanto maior é o silêncio do próprio Leão (até ontem, Roberto Francisco), mais cresce a curiosidade e se avolumam as opiniões e divagações. Mesmo sem fontes e fundamentos sólidos, permito-me fazer coro aos palpiteiros do momento.

Para os curiosos e os amigos dados ao misticismo, lembro que figuras de leões são comuns na arte e na decoração do mundo antigo: figuras de leões estão presentes no trono de Salomão e na decoração do templo que ele construiu em Jerusalém; os querubins vistos pelo profeta Ezequiel tinham cara de leão; seu rugido era temido na Palestina antiga, pois agredia os rebanhos e podia atacar o ser humano. Será que o povo católico deve temer o nosso novo Papa?

No primeiro testamento, o leão aparece geralmente como metáfora de inimigo, mas rainhas e princesas, e tribos e povos também são comparados a leões por sua audácia, força e ferocidade. Era visto como “filho do orgulho”, como hoje o vemos como “rei dos animais”. O próprio Deus é comparado a um leão que ruge contra Israel ou contra seus inimigos (cf. Os 5,14; Is 31,4). Num texto poético e utópico, Isaías imagina a reconciliação e a convivência do leão com os animais que ele persegue e mata (cf. Is 11,6; 65,25).

Mas isso não passa de digressão humorada para distrair quem costuma ser muito sério e concentrado, e nada desvenda das características que o Papa Leão XIV pensa dar ao seu ministério de guiar a Igreja na caridade. O que parece bastante seguro é que o Cardeal Robert Francis encontra inspiração no grande Papa Leão XIII (1878-1903). Num tempo marcado por tensões sociais e revoluções tecnológicas Leão XIII construiu pontes de diálogo e colaboração com a classe operária, afirmando corajosamente alguns direitos e inaugurando o pensamento social cristão. E isso é muito auspicioso.

Também precisamos levar em conta que o Frei Robert Francis foi missionário no Peru, decidiu pela cidadania peruana, foi nomeado bispo e atuou como bispo nesse país latino-americano, berço da teologia da libertação. Na verdade, ele é mais latino-americano que norte-americano! É significativo que ele tenha falado sobre isso na sua primeira manifestação como Papa, e tenha mencionado também seu sonho de uma Igreja que dialogue, que seja missionária, que ilumine, que construa pontes. Seria um sinal que aponta para uma promissora estação missionária, uma resposta tardia ao apelo de Leão XIII, na sua Encíclica Sancta Dei Civitas (03.12.1880)?

Ser descendente de migrantes, crescer numa cidade industrial e operária (Chicago), ser missionário e pastor no Sul do mundo e ser nomeado Bispo e Cardeal pelo Papa Francisco, parecem ser sinais eloquentes que apontam para uma etapa de continuidade criativa das sendas abertas pelo já saudoso Francisco. Mais que um “filho do orgulho” ou um “rei poderoso dos animais”, ele poderá ser semelhante ao Frei Leão, um dos companheiros e amigos mais queridos de Francisco, o Irmão pobre e sonhador de Assis.

Itacir Brassiani msf


Nenhum comentário: